Janaúba ainda sofre: Tragédia da Creche Gente Inocente completa 5 anos

Fernando e o filho Ruan — Foto: Arquivo pessoal

(Por Paula Alves, Michelly Oda e Marina Pereira, g1 Grande Minas e Inter TV) Lembranças e saudade. Marcas que estão no coração de Fernando da Conceição Silva há cinco anos desde quando seu filho, Ruan Miguel, morreu junto com outras nove crianças na tragédia da Creche Gente Inocente, em Janaúba. Além do menino, três professoras e o vigia Damião Soares do Santos, responsável pelo ataque, também faleceram.

“Quando ele era vivo, a minha vida era bem melhor do que hoje. Era um menino bem apegado comigo. Vinha pra cá e não queria ir embora, falava direito: Pai, quando crescer eu vou morar com o senhor", lamenta o pai. Ruan, que tinha quatro anos, foi o primeiro filho de Fernando.

Maria Eduarda de sete anos é uma das sobreviventes
 da tragédia — Foto: Reprodução/Inter TV

A pequena Maria Eduarda tinha apenas dois anos quando aconteceu a tragédia. Hoje com sete, a menina ainda guarda as cenas daquele dia na memória.

“Eu lembro que tacou muito fogo. Meus colegas tava tudo banhando de mangueira lá numas partes de planta. Aí foi e entrou uma mulher pegando fogo, todo mundo saiu para ver o que tava acontecendo. Aí nós viu tudo pegando fogo [Sic]. Graças a Deus eu não morri”.

Maria Eduarda inalou fumaça, precisou ser internada e não ficou com sequelas. A mãe relembra que não pôde acompanhar a filha no hospital porque desenvolveu conjuntivite emocional.

“Naquele momento eu queria tanto ficar com ela, eu precisava tanto ficar com ela e eu não pude. Ainda bem que a minha irmã que é muito apegada com ela, pode ficar”, contou Mirian Sandrália Souza Oliveira.

Crime em creche de Janaúba, Norte de Minas — Foto: Fredson Souza/Arquivo pessoal

A tragédia também marcou a vida de quem ajudou no socorro das vítimas. Mesmo acostumado com situações difíceis, o técnico de enfermagem Marcelo Oliveira Carvalho relata nunca ter vivido nada parecido com o dia 5 de outubro de 2017.

“Ao adentrar à creche a gente se deparou com uma cena traumatizante, algo que em toda a minha carreira profissional nunca tinha visto e não imaginei que me depararia. [...]Até hoje, tocar no assunto do incêndio da creche é algo que enche os olhos nossos de água, porque o coração dói, o coração aperta em lembrar daquele dia", fala Marcelo, que trabalha como socorrista no Samu há oito anos.

O sargento Givaldo Cunha Reis, do Corpo de Bombeiros, diz que por mais que os militares sejam treinados a manterem a calma, lidar com o socorro de crianças é sempre mais desafiador. O militar estava de férias quando o incêndio da creche ocorreu.

“Eu me senti no dever, na missão institucional de comparecer ao Hospital Regional de Janaúba e prestar meu trabalho.”

Indenização

Crime em creche de Janaúba, Norte de Minas — Foto: Fredson Souza/Arquivo pessoal

Segundo a Defensoria Pública de Minas Gerais, 57 famílias aderiram ao acordo extrajudicial indenizatório por danos morais e materiais firmado com a Prefeitura de Janaúba.

Algumas das famílias optaram por receber os valores a cada trimestre, enquanto outras preferiram que os valores sejam pagos mensalmente. A proposta formulada pela Prefeitura dividiu os atingidos em três grupos: morte (R$ 110 mil), lesão grave (R$ 110 mil) e lesões médias e leves (R$ 55 mil).

“As negociações com o Município tiveram início em julho de 2021. A Defensoria fez vários requerimentos buscando a reparação para as atingidas e atingidos. Acompanhamos aqueles que tiveram interesse em fazer o acordo, orientando-os e entregando a decisão para os próprios assistidos. Nesse contexto, o acordo é importante para dar segurança para as famílias”, destacou o defensor público Gustavo Dayrell.

Sobre o caso
Crime em creche de Janaúba, Norte de Minas — Foto: Fredson Souza/Arquivo pessoal

Dez crianças, três professoras e o vigia Damião Soares dos Santos, que colocou fogo na unidade, morreram na tragédia da Creche Gente Inocente. Após jogar álcool em si mesmo e nas vítimas, o vigia ateou fogo. Quatro alunos morreram imediatamente. As outras vítimas foram socorridas e morreram no hospital.

Movida pelo desejo de salvar as crianças, a professora Helley Abreu Batista sacrificou a própria vida para que a tragédia não fosse ainda pior. Ela teve 90% do corpo queimado e morreu no hospital, horas depois.

A atitude heroica rendeu uma homenagem à professora: a creche passou por uma grande reforma e recebeu o nome dela.
Nova creche foi construída no mesmo espaço e recebeu o nome da professora Helley de Abreu — Foto: Juliana Gorayeb/G1

Comentários

  1. Imagino a tristeza desses familiares, foi algo terrível, 😥

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