Zélia Mariely Santos foi morta aos 20 anos pelo ex-namorado em Montes Claros
A cidade de Janaúba, no Norte de Minas Gerais, desponta com destaque negativo em um levantamento recente sobre a criminalidade nos grandes municípios mineiros. A pesquisa, realizada pelo jornal Estado de Minas com apoio de especialistas em segurança pública, revela um panorama preocupante: Janaúba registra índices de crimes violentos acima da média estadual, com destaque para estupro e estupro de vulnerável, além de crescimento nos homicídios.
Em 2024, os casos de estupro representam 7,7% dos crimes violentos na cidade, mais do que o dobro da média dos grandes municípios mineiros (3,3%). O índice é ainda mais alarmante em crimes contra crianças e adolescentes: o estupro de vulnerável representa 13% das ocorrências, revelando um cenário de extrema vulnerabilidade da população infantojuvenil.
Além disso, com 77 crimes violentos registrados, Janaúba superou cidades maiores como Ituiutaba (com mais de 100 mil habitantes) em número absoluto de ocorrências. A cidade também figura entre os cinco maiores centros urbanos da região Norte com taxas elevadas de homicídios e violência urbana, ao lado de Pirapora, Januária, Montes Claros e São Francisco.
Criminalidade e causas estruturais
Segundo o levantamento, fatores como desigualdade social, precarização urbana, influência do crime organizado e uma cultura armamentista crescente contribuem diretamente para o agravamento da violência em municípios como Janaúba. Especialistas apontam ainda a impunidade, falhas no sistema judicial e a fragilidade das políticas públicas como agravantes da situação.
De acordo com o coronel Carlos Júnio, especialista em inteligência de Estado e segurança pública, o aumento dos crimes na região não pode ser atribuído apenas à presença de drogas ou à falta de policiamento. “O que vemos é um reflexo de fatores sociais profundos. Em bairros periféricos e comunidades com infraestrutura precária, como em partes de Janaúba, a vulnerabilidade gera ambiente propício à violência, especialmente contra mulheres e jovens”, afirmou.
A predominância do uso de armas de fogo (64%) nos homicídios e a ocorrência frequente em vias públicas (63,2%) também reforçam a percepção de insegurança nas ruas.
Caminho para soluções
O levantamento mostra que o enfrentamento da violência no Norte de Minas exige ações integradas e estruturantes, que vão além do policiamento ostensivo. Especialistas defendem investimentos em educação, assistência social, geração de empregos e reestruturação urbana como caminhos fundamentais para conter o avanço da criminalidade.
A cidade de Janaúba, que já se destaca regionalmente pela implantação de serviços de saúde de alta complexidade, como o Hospital do Câncer e a futura Hemodinâmica, também precisa de atenção urgente nas políticas de segurança pública e proteção social, com foco especial em crianças, adolescentes e mulheres — as maiores vítimas dos crimes em crescimento.
Mais do que números: o impacto humano da violência
A reportagem também destaca que, por trás dos dados, existem histórias reais e dolorosas. Famílias destruídas pela violência, como a de Zélia Mariely, jovem de 20 anos brutalmente assassinada em Montes Claros, e outras vítimas que poderiam estar protegidas se houvesse políticas públicas mais eficazes.
Embora o caso tenha ocorrido em cidade vizinha, a realidade vivida pela família de Zélia ecoa em centenas de outras de Janaúba e região, onde mães, irmãs, filhas e esposas vivem sob o medo constante da violência de gênero. É preciso que a dor dessas famílias impulsione mudanças reais.
Janaúba precisa ser prioridade
Com mais de 70 mil habitantes e status de polo regional, Janaúba não pode continuar ignorada nos debates sobre segurança pública em Minas Gerais. Os números revelam a urgência da situação, e a população cobra soluções à altura da gravidade do problema.
É hora de colocar Janaúba no centro das estratégias de combate à criminalidade e de promoção da dignidade humana.
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