Coração de Jesus terá seu Tapuiasaurus macedoi no guia definitivo de dinossauros brasileiros


Se toda a história dos últimos 4,5 bilhões de vida na Terra fosse contada a partir de uma escala de 24 horas --ou 1 dia--, nós, humanos, teríamos aparecido nos últimos 6 segundos antes de marcar meia-noite. Já os dinossauros aparecem pela primeira vez no "relógio da vida" às 22h46 --ou pouco mais de uma hora antes do final do dia.

Sob essa ótica relativa do tempo, nós, humanos, somos muito pequenos diante da evolução de dezenas de milhares de outras espécies que viveram no planeta antes de nós.

A nossa história, porém, é interligada com a de outras espécies pelas mudanças surgidas na Terra, incluindo aquelas que moldaram o clima e os oceanos nos últimos 65 milhões de anos, desde a última grande extinção.

É com essa visão que o paleontólogo e professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Luiz Anelli, escreveu o "Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil". Apesar de trazer a temática de dinossauros, o livro conta, em 364 páginas, a história da vida na Terra, passando pelas diferentes eras geológicas, até o tempo presente.

Com ilustrações do paleoartista Julio Lacerda, a obra contemporiza cada uma das 54 espécies de dinossauros descritas para o Brasil, com informações detalhadas de onde e por quem foram encontrados e onde os fósseis estão guardados atualmente --em coleções científicas, a maioria no país, mas algumas, contraditoriamente, fora, como o dinossauro com penas Ubirajara jubatus.

Segundo o autor, a ideia do livro foi justamente para preencher uma lacuna de divulgação científica e material didático no país. "Esse guia conta a história da Terra desde o seu surgimento até o Antropoceno, uma nova época que entende as ações humanas como força geológica. Os dinossauros viveram no período que reúne o maior número de eventos geológicos e biológicos. Não é exagero dizer que a maior parte do mundo atual é uma herança de tudo o que foi semeado durante o tempo dos dinossauros", diz.

O intuito do novo guia completo é reunir os 54 dinossauros descobertos em terras brasileiras nos últimos 50 anos, mas não se limita a eles, afirma o autor.

Anelli faz ainda uma breve descrição dos grupos que evoluíram a partir e também à sombra dos dinossauros --como as aves, descendentes diretas dos dinossauros carnívoros, grupo mais bem-sucedido de vertebrados atualmente, e os mamíferos, cujo sucesso evolutivo só foi capaz após a extinção dos grandes répteis.

Com prefácio do geólogo e também professor do Instituto de Geociências da USP, Renato Almeida, a obra se propõe a ser um material de apoio para todos os interessados e amantes de dinossauros e futuros paleontólogos, mas também para o ensino de biologia nas escolas.

"Os dinossauros [no livro] são um chamariz para discutir outros temas, como a ciência da geologia e o estudo da Terra no tempo profundo. Como tem muitas pessoas interessadas em dinossauros, mas em um número menor interessadas em ciência, o grande papel deste livro é abrir o leque de assuntos para o leitor que também se interessa por paleontologia", diz.

Para Almeida, Anelli soube fazer algo bem difícil, que é equilibrar a linguagem e rigor conceitual e uma leitura mais acessível, o que faz do livro cativante para os amantes de dinossauros, mas não só.

O livro traz, ainda, informações sobre a evolução das populações humanas antigas, incluindo a chegada --ainda debatida quanto à data exata-- do Homo sapiens às Américas, algo entre 23 mil e 16 mil anos atrás, e as marcas profundas que nossos ancestrais deixaram na cultura e nos vestígios arqueológicos, como as pinturas da Serra da Capivara, no Piauí.

"Nós temos aqui os dinossauros mais antigos já encontrados no mundo, e isso coloca o Brasil em uma perspectiva de importância quando se fala de paleontologia. O livro traz isso de maneira muito elegante", afirma Almeida.

O lançamento oficial do livro com sessão de autógrafos ocorre na exposição "Dinossauros - Patagotitan, o maior do mundo", no Parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo, neste sábado (19) e domingo (20) das 9h às 16h.

Titanossauro mineiro
Descoberto em 2005 no município de Coração de Jesus, norte de Minas Gerais, e apresentado em 2011, o Tapuiasaurus macedoi ganhou o título de primeiro e mais antigo titanossauro da América do Sul, após a redescrição de seu crânio, bastante preservado, e análises comparativas realizadas por pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Argentina (Zoological Journal of the Linnean Society, março). Entre os dinossauros, o grupo dos titanossauros é um dos mais diversos, mas apenas 3 dos 70 gêneros possuem crânios completos como o de T. macedoi. Além disso, a maioria dos fragmentos cranianos é de titanossauros mais recentes, do fim do período Cretáceo. Uma equipe coordenada pelos biólogos Hussam Zaher, da Universidade de São Paulo, e Jeffrey Wilson, da Universidade de Michigan, Estados Unidos, encontrou características únicas no crânio do T. macedoi, como o formato de dentes, e concluiu que o animal – assim chamado em homenagem a Ubirajara Alves Macedo, pesquisador não acadêmico da região – foi um dos mais primitivos do grupo. O T. macedoi deve ter vivido há 125 milhões de anos, no Cretáceo Inferior, em paralelo a outros titanossauros primitivos (ou basais), cujos fósseis foram encontrados nos atuais Tailândia e Laos, na Ásia, e Malauí, na África. Seu crânio é alongado como o de um cavalo, com as narinas no alto. O formato dos dentes indica que o animal – um herbívoro com estimados 13 metros de comprimento, 4 metros de altura e 10 toneladas de peso – devia alimentar-se de folhas que puxava dos galhos das árvores.


NOVO GUIA COMPLETO DOS DINOSSAUROS DO BRASIL

Quando: sábado (19) e domingo (20) das 9h às 16h

Onde: Exposição "Dinossauros – Patagotitan, o maior do mundo", Parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo

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