Montes Claros: Mantida em cárcere privado pelo marido, mulher conseguiu acionar polícia com a ajuda de um dos filhos, diz delegada



(Por Michelly Oda, g1 Grande Minas) A ajuda de um dos três filhos foi fundamental para que a mulher encontrada em cárcere privado, em Montes Claros, conseguisse chamar a Polícia Militar. O marido dela foi preso em flagrante e levado para um presídio da cidade.

“Ela estava mantida em cárcere privado, ele a agrediu muito e um dos filhos dela, de 13 anos, tentou ajudar e foi agredido também. Quando eles estavam presos em casa, ele saiu e deixou a mulher e os filhos trancados, chegou o filho, de 17 anos, e percebeu que estava acontecendo alguma coisa pela janela, eles pediram ajuda e esse filho pediu socorro de um terceiro, e a polícia foi acionada", fala a delegada Karine Maia.

Ainda de acordo com a chefe da Delegacia da Mulher, o homem é investigado em cinco inquéritos, todos têm relação com violência doméstica. Ele e a vítima estavam juntos há seis meses.

“O autor é contumaz em agredir mulher. Nós temos na delegacia cinco inquéritos instaurados contra ele, pedidos de medidas protetivas... ele causa realmente temor nas vítimas e o modus operandi é o mesmo, cárcere privado, batendo e mantendo as vítimas presas em casa, sem autorizar que as vítimas conversem com parentes e amigos, um caso típico de violência doméstica.”

Embora já fosse investigado, a delegada diz que o homem nunca havia sido preso em flagrante. Agora, os inquéritos devem ser finalizados com a maior rapidez possível para que ele continue encarcerado.

Ao ser detido, o autor negou os fatos. O g1 não conseguiu localizar nenhum advogado do envolvido até a publicação desta reportagem, esse espaço permanece aberto para o posicionamento da defesa.

Conforme Karine Maia, vivenciar essas situações de violência física e psicológica, faz com que as vítimas tenham medo de denunciar. Mesmo assim, ela reforça a importância dos casos chegarem ao conhecimento da polícia.

“As vítimas precisam denunciar porque ele é um agressor contumaz, é uma pessoa com desvio de conduta, ele precisa ficar atrás das grades porque ele não sabe conviver, não sabe manter um relacionamento.”

Crimes que serão apurados
Conforme a delegada, além do cárcere privado, serão apurados outros crimes. Entre os delitos que serão investigados, está um aborto que a vítima alega ter sofrido após ser agredida.

“Eu estava grávida mês passado e perdi, acho que tinha umas duas, três semanas de gravidez. Ele me deu um soco nas costas e eu perdi. No outro dia eu fiquei morrendo de dor, chorando dentro de casa", disse a vítima, que não terá o nome divulgado como forma de preservá-la.”

“Caso fique confirmado que ela sofreu aborto em razões das agressões dele, a situação fica ainda mais grave. Nós vamos investigar realmente se houve esse aborto. De qualquer forma, no dia de ontem também foi citado, e isso vai ser investigado de forma pormenorizada, que ele estava apertando o pescoço dela e quando ela estava perdendo o ar, o filho de 13 anos o empurrou e ela conseguiu voltar, nós podemos imaginar que se trata de uma tentativa de feminicídio", detalha Karine Maia.

Além disso, a Polícia Civil vai verificar outra informação fornecida pela vítima, de que esse filho dela também teria sido agredido, o que pode configurar lesão corporal grave.

“Ela já vinha sendo mantida em casa sem autorização do marido para sair. Se ela saísse, ela apanhava quando chegasse em casa. Ele também não permitia que ela tivesse contato com os parentes, quebrava o celular para ela não ligar para ninguém. Batia nela nos últimos tempos quase todos os dias, ela foi encontrada muito machucada.”

Agressões
Nessa quarta-feira (24), dia em que foi libertada pela PM, a vítima contou que, inicialmente, o companheiro se mostrava "uma pessoa trabalhadora, excelente, cuidadosa." Mas, com o convívio, ela conheceu um outro lado dele.

“Depois veio o ciúmes possessivo dele, mesmo eu não tendo nada com ninguém, conversando com ninguém, era um ciúmes, uma obsessão. [...] Não podia ter contato nenhum. Meu pai me ligava todo dia pra saber como eu estava, mas era ele quem atendia o telefone. [...] Eu tenho ele como um monstro, porque homem não é assim não.”

Ela ainda citou que apanhava com frequência: “Era porrada na cara, nas costas, mordida, puxão de cabelo.”

“Só ficava trancada dentro de casa, não saía para canto nenhum, só quando ele estivesse, mesmo assim, se eu fosse no quintal, ele tinha que estar comigo, eu não saía sozinha nem no quintal da minha casa, era o tempo todo com ele.”

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