Baiano é testemunha do progresso que chegou

Baiano é comerciante no local desde 1980, quando acompanhou o processo de transferência da antiga UB (Universidade de Bauru) da Vila Falcão para a então remota região. Começou com um carrinho de lanches, depois evoluiu para um barraco de madeira e agora tem lanchonete bem montada, onde os filhos e funcionários servem inclusive almoço para estudantes e funcionários da universidade pública.
Um dos filhos dele, Carlinhos, 37, ajuda no resgate da memória. Ele cresceu nos arredores da Unesp e, como o pai, lembra de todos os frequentadores assíduos do bar.
Uma das recordações é contada entre risadas. Segundo Carlinhos, antes não havia iluminação pública na avenida, que também não era duplicada. Então, os estudantes que queriam ver a passagem do cometa Halley, em 1986, escolheram o local como ponto.
E alguém viu, Carlinhos? “Só os que beberam mais”, ele conta, bem-humorado.
O Bar Ubaiano precisou mudar de lugar quando a avenida foi duplicada e o comerciante aproveitou para deixar o espaço mais confortável.
O jeito simples, no entanto, continua o mesmo. Carlinhos conta que muitos estudantes gostam do local porque podem ficar à vontade. E antigos frequentadores, hoje profissionais respeitados, aparecem para visitar Baiano.
“Falei assim para um deles: não adianta vir com esse cabelo de ‘Zé Rico’ que eu te conheço”, diz. “Eles [os estudantes] sempre foram ligados comigo, a vida toda”, reforça.
Não foi só o bar que mudou. Tudo é diferente na avenida, cuja duplicação foi inaugurada em 2004. A via, antes estreita e rodeada de matagal, hoje é o endereço do Hospital Estadual, do 4º Batalhão da Polícia Militar e do Samu. Residenciais e pontos comerciais foram construídos na região.
A universidade que Baiano conheceu na década de 1980 também é outra. É maior e segue sendo ampliada.
“A cidade tem que ter progresso”, comemora o comerciante. “A cidade cresce e a gente cresce junto.”
Mineiro /Apesar do apelido, Baiano é mineiro. Nasceu em Janaúba, Minas Gerais. Veio para Bauru na década de 1960, em busca de trabalho. Criou seis filhos com a vida desgastante atrás do balcão. Acha que valeu a pena, principalmente por causa da família estruturada que construiu.
“O que importa é isso”, ensina.
Também gosta de dizer que sente orgulho dos alunos que viu começarem a vida adulta e hoje voltam e contam sobre a trajetória profissional.
A melhor história, no entanto, é mesmo a do Baiano. Quando precisou mudar o bar de lugar, ele impôs uma condição: “Vocês podem me mudar, mas a árvore vai junto”.
A árvore é uma figueira que ele plantou em 1981, nos fundos do bar antigo. Conta que a árvore deu muito trabalho, precisava ser aguada todos os dias. Se o comerciante não a levasse junto, seria derrubada para a avenida passar.
Baiano chamou a imprensa e conversou com ambientalistas até conseguir o replantio, numa pracinha ao lado do estabelecimento atual.
A figueira hoje á uma árvore grande e bela. Estudantes universitários usam sua sombra para ensaiar o conhecido batuque da Unesp. O comerciante fica de olho em tudo, satisfeito.
“Agora, ela está sossegada”, comemora Baiano embaixo da figueira. “Um dia eu vou e ela vai ficar.”

Floresta urbana é atração mais ‘rica’ da região
O cenário da avenida Luiz Edmundo Coube inclui muita gente fazendo caminhada nas calçadas, ciclistas, motoristas e uma academia ao ar livre inaugurada pela prefeitura há um ano.
A maior atração, no entanto, é a Floresta da Água Comprida, mais conhecida como floresta urbana, uma área de 60 hectares que já mobilizou ambientalistas em torno da grande necessidade de sua preservação.
A floresta chegou a ser “abraçada” por seus defensores, preocupados com a possibilidade de desmatamento para investimentos privados.

Deu certo. O prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB), que também surgiu na vida pública como ambientalista, resolveu desapropriar aos poucos a área para garantir a preservação.
Caso a decisão não fosse pela manutenção da área verde, árvores poderiam ser derrubadas para a construção de um condomínio de apartamentos.
O ataque ao meio ambiente tiraria da cidade um de seus pulmões verdes, mataria animais e seria capaz até de promover mudanças no clima da região.

O BOM DIA esteve num trecho da floresta na última quinta-feira. É como entrar num outro mundo, sem perder o contato com o anterior.
Dentro da mata, o som dos animais impressiona. Mas o barulho dos veículos do lado de fora continua, o que reforça a sensação de contraste entre a área natural e o espaço cada vez mais ocupado pelo desenvolvimento econômico.
A vida urbana também chega ali por meio da sujeira encontrada logo na entrada: copos, garrafas, pratos, embalagens de leite e plástico.
Perto da floresta e dono da simplicidade, Baiano faz sua parte para garantir ar puro e sombra. Ele não deixa ninguém fazer mal à figueira que replantou e impediu o progresso de engolir.


UB vira Unesp na década de 1980
A antiga Universidade de Bauru foi incorporada à Unesp em agosto de 1988. Tem área total de 456.987.017 hectares e 52.403,15 metros quadrados de área construída. São salas de aula, laboratórios, biblioteca, departamentos e área administrativa.

540
É o número de professores do campus da Unesp em Bauru. São mais de 6,3 mil alunos e quase 500 funcionários

Institutos são origem
A Unesp (Universidade Estadual Paulista) foi criada em 1976, a partir da incorporação dos Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, que eram unidades universitárias localizadas em diversos pontos do Interior. As unidades haviam sido criadas entre o fim da década de 1950 e o início da década de 1960.

3
É o número de faculdades instaladas no campus local

Universidade é ampliada
Na década de 1990, a Unesp ampliou sua atuação e aumentou a oferta de vagas. Em 2003, por causa da política do governo de ampliar o ensino superior público, criou as Unidades Diferenciadas, chamadas Campi Experimentais. O primeiro reitor da universidade foi o professor Luiz Ferreira Martins. O atual, Hermann Voorwald, está afastado para ocupar o cargo de secretário estadual da Educação. O vice no exercício da reitoria é Julio Cezar Durigan.


Cristina Camargo
cristina.camargo@bomdiabauru.com.br

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