Janaúba e Jaíba lideram perda de Caatinga para Usinas Solares em Minas Gerais

Complexo Solar Janaúba.

Os municípios de Janaúba e Jaíba, localizados no Norte de Minas Gerais, estão no topo do ranking nacional de perda de vegetação nativa da Caatinga devido à expansão de usinas solares, conforme revela um estudo recente da iniciativa MapBiomas. Entre 2016 e 2024, Jaíba perdeu 2.840 hectares e Janaúba 2.409 hectares de Caatinga para a instalação de painéis fotovoltaicos, colocando-os como os dois municípios brasileiros com maior desmatamento do bioma para esse fim. Esses números alarmantes destacam o impacto ambiental da busca por energia limpa em uma região marcada pela riqueza natural e pela fragilidade ecológica.

De acordo com o levantamento do MapBiomas, concluído em setembro de 2025, Minas Gerais lidera o ranking nacional de perda de Caatinga para usinas solares, com 59,84% do total desmatado no país para esse propósito. Do total de 35,3 mil hectares ocupados por usinas fotovoltaicas no Brasil em 2024, 13,1 mil hectares (37%) estão em Minas Gerais, com Janaúba e Jaíba sendo os principais epicentros dessa transformação. Esses dois municípios, juntos, respondem por mais de 5.200 hectares de vegetação nativa convertida, um reflexo da alta incidência solar e dos preços acessíveis de terras na região, que atraem grandes investimentos em energia renovável.

A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, enfrenta pressões históricas como a agropecuária, a mineração e a produção de lenha, mas a expansão das usinas solares trouxe uma nova dinâmica de desmatamento. Em Janaúba, por exemplo, a instalação de projetos como o Janaúba Solar Complex, desenvolvido pela Elera Renováveis, com capacidade de 1,2 GW e ocupando cerca de 3.000 hectares, transformou a paisagem local, antes marcada por savanas e pastagens. Em Jaíba, o Sol do Cerrado Solar Park, com 766 MW e mais de 1,4 milhão de painéis solares, também contribuiu significativamente para a remoção de 2.840 hectares de Caatinga.

O relatório do MapBiomas aponta que, entre 2016 e 2024, a área ocupada por usinas solares no Brasil saltou de 822 hectares para 35,3 mil hectares, sendo 62% desse total (21,8 mil hectares) localizado na Caatinga. Em Minas Gerais, cerca de 44,5% da área convertida para usinas solares eram formações savânicas, enquanto 36,6% eram pastagens, evidenciando a substituição de ecossistemas naturais por infraestruturas energéticas. Janaúba e Jaíba, com suas condições ideais para geração solar, tornaram-se símbolos dessa transição, mas também levantam preocupações sobre a sustentabilidade ambiental.

A perda de Caatinga em Janaúba e Jaíba não é apenas um número: representa um impacto direto na biodiversidade e nas comunidades locais. A Caatinga é o bioma semiárido mais biodiverso do mundo, mas apenas 8,8% de sua área está protegida em unidades de conservação, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A remoção de vegetação nativa aumenta o risco de desertificação, que já afeta 10% do bioma, além de comprometer a retenção de água e a agricultura de pequenos produtores.

Apesar dos benefícios econômicos trazidos pelas usinas solares, como a geração de empregos — 11.000 em Janaúba durante a construção do complexo da Elera — e o aumento da arrecadação municipal, especialistas alertam para a necessidade de um planejamento mais sustentável. “É essencial que os projetos de energia solar priorizem áreas já degradadas, evitando a supressão de vegetação nativa”, destaca Nerivaldo Afonso, pesquisador da equipe Caatinga do MapBiomas. A transição para uma matriz energética limpa é crucial, mas o desafio é conciliar o avanço tecnológico com a preservação do bioma que define a identidade do Norte de Minas.

Janaúba e Jaíba, ao liderarem a produção de energia solar, também carregam a responsabilidade de buscar um equilíbrio entre desenvolvimento e conservação ambiental. A história desses municípios reflete o dilema nacional: como avançar na energia renovável sem sacrificar o patrimônio natural da Caatinga, que continua a encolher diante das demandas do progresso.

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