O passado que insiste em ser futuro no PT de Porteirinha

                                                   Alonso Reis. Presidente do Partido.

O Partido dos Trabalhadores de Porteirinha, maior partido em número de filiados no município, parece ter estacionado no tempo desde que perdeu a eleição de 2008 para o atual mandatário da cidade, Juracy Freire. Naqueles tempos, o candidato e principal liderança do partido era Alonso Reis, um ex-bancário de carreira que chegou ao poder em 2004, em meio a uma eleição turbulenta e cheia de excepcionalidades. A desistência do então principal candidato, e prefeito da cidade, abriu o caminho para vitória de Alonso Reis e do PT, pela primeira vez, mas isso não foi suficiente para consolidação da força política eleitoral do partido nos anos seguintes.

Desde aquela fatídica derrota, coube ao Partido dos Trabalhadores o lugar de mero articulador das alianças políticas que viriam depois, sem jamais conseguir emplacar um nome como cabeça de chapa ou com força suficiente para abafar os demais nomes que foram surgindo, e que assumiram o posto de liderança, levando o PT cada vez mais pra longe do centro dos debates. A gota final deste processo de perda de relevância política veio com as eleições do ano passado, e fez o balde todo entornar. Ao não conseguir negociar com o grupo político do PSB, liderado pelo ex-prefeito Silvanei Batista, o Partido dos Trabalhadores, pela primeira vez na história do diretório de Porteirinha, não apoiou ou formou coligação majoritária com outros partidos, e ficou completamente fora da disputa nas eleições a prefeito em 2020.

Este caminho, que vem sendo cavado desde o ano 2009, o primeiro ano pós mandato de Alonso Reis, não se abriu da noite para o dia, e não pode ser atribuído a forças estranhas. A trilha que levou o PT de principal partido da cidade em 2004 a mero observador eleitoral em 2021 deixou rastros, e pode ser observada pelos que buscam compreender o que aconteceu nesses anos olhando os fatos, e quem esteve à frente das decisões que foram tomadas.

Ao contrário dos quadrinhos e desenhos, a política não necessita renovar suas lideranças a cada ano. Pelo contrário, na política a liderança é alcançada com muitos anos de dedicação a uma causa, que moldará o caráter e a luta de quem busca tal posto. Contudo, o mesmo tempo que serve para depurar as melhores lideranças, também pode torná-las ultrapassadas, e consequentemente menos importantes, sem que lhes seja dado o tempo necessário para tal compreensão. Daí, quando se percebe, é demasiado tarde. Lá se vão 17 anos desde que o atual presidente do Partido dos Trabalhadores de Porteirinha, e principal liderança ainda hoje, o Sr. Alonso Reis, venceu as eleições de 2004, se posicionando como então líder político àquela época. Se todo este tempo que passou desde sua vitória fosse uma pessoa, ele já poderia ter votado nas eleições do ano passado, o que indica que há muito tempo a liderança e direção do PT segue sem qualquer mudança, como se ainda estivessem nos anos 2000, e cada vez mais continuam a perder o espaço inevitavelmente.

Um partido político para se renovar não precisa, de nenhuma maneira, descartar suas lideranças, sejam elas de qual época forem. Cada uma delas é parte importante na construção da identidade do partido ao longo das décadas, e certamente terão muito a contribuir para tais propósitos. Além de serem uma inesgotável fonte de experiência para a elaboração de políticas públicas mais assertivas. Porém, o simples fato desta liderança estar na luta política há muitos anos, ou de ter feito parte da construção do partido em décadas passadas, não pode ser o único fator de peso na hora de definir quem comandará as direções políticas do grupo. Há que se levar em conta critérios que contextualizem o cenário político, as mudanças na sociedade, a necessidade de abertura de espaço para o surgimento de futuras lideranças, entre outros aspectos relevantes. Ou, a perda de espaço e relevância, como vem ocorrendo, será ainda mais acentuada. Não haverá espaço numa sociedade tão dinâmica quanto esta dos tempos atuais para centralização de poder.

Diferentemente da situação do cenário político nacional, onde uma liderança forjada nos anos 1970, o ex-presidente Lula, ainda se mostra a única força capaz de vencer as próximas eleições, o cenário político municipal está mais para o complemento isolamento do Partido dos Trabalhadores em 2024 que para qualquer outra possibilidade, como já determinou o resultado das eleições municipais do ano passado. O forte crescimento da população jovem nas cidades do interior e o mundo de informações aberto pela internet mudaram bastante a relação entre lideranças e liderados, fazendo com que mais e mais pessoas vejam na renovação política local a única solução para os tantos problemas de desenvolvimento social e econômico que elas enfrentam, em face a seus desafios contemporâneos.

Olhando diretamente para o Partido dos Trabalhadores e seus líderes atuais, ou melhor, líderes de sempre, é possível enxergarmos um partido paralisado no tempo, que não se viu diante do espelho quando teve oportunidade, e agora só observa sua importância ser reduzida a mero apoio político, por sinal dispensável a qualquer coligação ao menor sinal de completa aceitação dos projetos propostos, e que se mantém distante dos debates públicos de extrema relevância. Lamentavelmente o PT preferiu se agarrar ao passado na tentativa de fazê-lo futuro, quando deveria ter vislumbrado no presente o desenvolvimento do futuro.

Ainda há tempo de corrigir as falhas, mudar o entendimento e começar a escrever um novo futuro para o partido, antes que seja tarde demais. Contudo, como cabe aos mesmos responsáveis pela situação atual a decisão de alterar a direção do partido, ficam perguntas no ar: estariam eles dispostos a perder seus postos? Estariam eles enxergando a situação do partido? Se as eleições fossem hoje, estaria o partido mais uma vez fora da disputa?

Fonte: Portal Serra do Norte

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