O TIRO NO PÉ DE MADAME MUNIZ

(Por Luís Cláudio Guedes) Houve um tempo em que ser dono de emissora de rádio era um bom cartão de visita para deputados recém-eleitos aqui em Brasília. Agora nem tanto. Ter um avião no hangar é o sonho de consumo de qualquer político no Brasil. Veja o caso do ex-presidente Lula, que não tira os pés supostamente imperiais do apartamento em São Bernardo do Campo para entrar em avião de carreira, nem por decreto. Ele gosta mesmo é de jatinhos, que até aqui não lhe têm faltado.
Mas como eu ia dizendo, ser dono de avião pode ser o passaporte para retirar o deputado em primeiro mandato da vala comum do baixo clero para o status dos ‘com visibilidade’ naquele microcosmo do entorno da Praça dos Três Poderes. Imagine quando o (a) parlamentar tem três aeronaves para chamar de sua?
É o caso da deputada federal em primeiro mandato e primeira-dama de Montes Claros, Raquel Muniz (PSC), que sonhava botar Brasília aos seus pés com uma mistura incompreensível de visual andrógino e apelo ao folclórico. O alvo era o acesso rápido ao território VIP da cúpula congressual.
Foram essas as credenciais que levaram Raquel ao circuito por onde transitava o deputado federal Eduardo Cunha, então candidato à Presidência da Câmara. A deputada se engajou na campanha do peemedebista, que naquela altura cruzava os céus do país de Norte a Sul, em inédita e milionária campanha para o cargo de presidente da Câmara, com seu colégio eleitoral de apenas 513 eleitores.
Eleito, e no curto prazo de nove meses, Cunha saiu da condição de líder do baixo clero para o invejado posto de homem mais poderoso da República – com poderes de vida e morte sobre o destino de uma presidente acuada por seus próprios deméritos. Mas o reinado de Cunha durou pouco. Seus pés de barro o levaram a jato para a queda em desgraça, após ser desmascarado em roteiro nunca antes visto de mentiras e maquinações, que envolve desde evasão de divisas, suspeita de tráfico de influência e comportamento despótico na condução da Câmara.
A deputada Raquel Muniz, que sonhava com um cargo na mesa diretora da Câmara, fez aposta errada ao se aproximar do amigão Eduardo Cunha. Na semana passada, o PSDB de Aécio Neves pulou fora da canoa do presidente da Câmara ao perceber com bastante atraso o que todo mundo já sabia: ele negocia com o PT (pelo que tudo indica Lula à frente) uma saída em que adia para as calendas gregas o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em troca, fica livre da cassação.
Para resumir essa ópera bufa, Raquel Muniz tinha sonhos grandes ‘ao lado’ de Eduardo Cunha – que só não está ainda na cadeia porque o Brasil é essa piada que todos sabemos. Interessante acompanhar os passos erráticos de madame Muniz. Na campanha eleitoral do ano passado, ela saiu da base do PT para apoiar o então candidato Aécio Neves. A estratégia deu em águas de barrela. Agora, se considerar ser fiel ao notório Cunha, um cadáver político ambulante, madame primeira-dama volta de cabeça baixa para o ninho onde os petistas vendem até a alma para não entregar o doce da rapadura do poder.

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