Em sessão tumultuada, prefeito de São João da Ponte não consegue impedir investigação


(Por Luis Claudio Guedes) A bancada de vereadores aliada ao prefeito Sidiney Pereira da Silva, o Sidiney Gorutuba (PSD), na Câmara Municipal de São João da Ponte, no Norte de Minas, bem que tentou, mas não conseguiu evitar a investigação de denúncias por improbidade administrativa que tramita na Casa. O clima na cidade ficou tenso durante reunião extraordinária da Câmara realizada na tarde da quarta-feira (26), quando foi apreciado o parecer favorável ao arquivamento do processo de investigação. Centenas de moradores lotaram a rua e o plenário e a sessão acabou em tumulto e troca de socos. O motorista do prefeito agrediu um manifestante e foi preso, além disso um manifestante tentou agredir um dos vereadores e também foi levado para a delegacia de polícia local.
O potencial da confusão subiu alguns decibéis porque a reunião da Câmara teve cobertura da equipe do programa CQC - Custe o Que Custar -, da Rede Bandeirantes de Televisão – uma mistureba de humor e crítica política, que já teve alguns momentos de fama, mas anda com audiência em baixa nos últimos tempos. Liderada pelo humorista e jornalista Oscar Filho, a equipe da Band produz matéria para o quadro “Proteste Já!” que deve ir ao ar na segunda-feira (31) e que vai abordar a interminável crise política do município de São da Ponte. Toda a movimentação foi gravada e alguns vereadores foram entrevistados com o habitual tom de chacota que caracteriza o programa. 
Sidiney Gorutuba, um ex-vereador alçado à condição de prefeito por artimanhas do destino: ele era vice do prefeito eleito Geraldo Paula da Costa, o Gê Paula, que tomou posse no leito de um hospital e morreu pouco depois, em janeiro do ano passado. Gorutuba contava com oito dos onze vereadores, ou dois terços dos votos disponíveis, para aprovar o arquivamento da denúncia contra seu governo. 
Segundo o advogado e jornalista Fábio Oliva, os últimos dias foram marcados por intenso assédio dos advogados do prefeito sobre os oito vereadores que integram a bancada governista. Na última hora, contudo, o vereador Lucílio Weliks de Souza (PMDB), aliado de Gorutuba, teve problemas de saúde e precisou ser internado em Montes Claros, faltando à reunião. O placar final ficou sete votos a favor do arquivamento e três votos a favor do prosseguimento das investigações.
Dos sete vereadores que votaram para que não haja investigação, quatro são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de Minas Gerais, por suspeita de terem recebido R$ 50 mil cada para evitar a cassação do ex-prefeito Fábio Luiz Fernandes Cordeiro (PTB), o Fábio Madeiras, em 2011 (aqui): Abelar Pinto (PSB), Juscilene Fagundes Borges (PTB), presidente da atual Comissão Processante, Geraldo Filogônio Ferreira, o Geraldo da Boa Vista (PTC), José Geraldo Lisboa, o Zé do Jambra (PTB).

Denúncia
O prefeito Sidiney Gorutuba é acusado de usar bens e servidor do município em obra que deveria ser feita por empreiteira privada; não responder aos pedidos de informações e documentos necessários a que a Câmara Municipal cumpra seu papel de fiscalização; e de induzir um servidor público a fraudar laudos de vistoria de veículos destinados ao transporte escolar, para favorecer cooperativa de transportes sediada em Caratinga (MG).
Quem conhece as entrelinhas da política pontense, no entanto, diz que Sidnei Gorutuba enfrenta o descontentamento de familiares do falecido prefeito Gê de Paula, demitidos por força de termo de ajustamento de conduta (PAC) em que o Ministério Público interveio para colocar fim ao suposto loteamento de cargos na Prefeitura local. Com a entrada dos ‘homens de preto’ do CQC em cena, a sorte de Gorutuba parece estar selada. São João da Ponte entra em rede nacional de TV, o que deve enfraquecer a posição de Gorutuba. 
O presidente da Câmara de Vereadores é Paulo Simão Campos (PPS), que vem a ser sobrinho do ex-prefeito Gê de Paula, é o segundo nome na linha de sucessão local, o que explica, em boa parte, o ímpeto investigativo da Casa. Os vereadores, contudo, não sabiam da visita da equipe do CQC à cidade. O programa descobriu São João da Ponte por meio de contato que o advogado Fábio Oliva tem na equipe de produção do programa: a jornalista Vanessa Holanda, que ele conheceu durante evento em que foi palestrante em Belo Horizonte. "Sugerimos várias pautas para o CQC que nunca deram em nada, mas o interesse pelo Norte de Minas só veio agora com esse caso de corrupção em São João da Ponte", diz Oliva. 
O interesse do CQC pelo caso pontense se deveu ao fato inédito de tentativa de suborno pago com cheque nominal pelo empresário e agora hóspede do sistema prisional mineiro presidiário Marcos Vinícius Crispim, o Corby. Esse caso, contudo, nada tem a ver com o atual prefeito e diz respeito a outra tentativa de evitar a votação de pedido de impeachment na Câmara de Vereadores, durante o mandato do ex-prefeito Fábio Luiz Fernandes Cordeiro, o Fábio Madeiras (PTB). O CQC vai abordar a sequência de fatos que têm transformado São João da Ponte em motivo de chacota nacional.

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