O que começou com uma tragédia em Janaúba, em 2017, transformou-se em laço, solidariedade e paixão por velocidade — e, agora, em mais uma dolorosa perda. O empresário Adalberto Amarilio dos Santos Júnior, de 36 anos, encontrado morto em circunstâncias misteriosas próximo ao Autódromo de Interlagos, em São Paulo, fazia parte de um grupo de amigos do kart que nasceu como resposta à tragédia que abalou o Brasil.
Foi após o incêndio criminoso em uma creche municipal de Janaúba — no qual a professora Heley de Abreu Silva Batista perdeu a vida ao tentar salvar seus alunos — que Adalberto se aproximou de Paul Robison, hoje com 39 anos. Eles se conheceram em um evento beneficente no kartódromo de Aldeia da Serra, que arrecadava fundos para a creche “Gente Inocente”, em homenagem às vítimas.
Daquele gesto de compaixão nasceu uma irmandade. Amigos do kart passaram a se reunir mensalmente, competindo em diversas pistas de São Paulo. As corridas tinham um objetivo que ia além da velocidade: arrecadar alimentos, roupas e brinquedos para causas sociais, mantendo viva a memória de Heley e de tantas vítimas esquecidas.
“O mais jovem nos deixou primeiro”
Paul Robison ainda tenta entender a morte do amigo:
“A gente anda de carro e chora. Eu olho meus troféus e choro. Fomos campeões juntos. Nunca imaginamos que o primeiro a partir seria o mais novo.”
Adalberto era descrito como educado, gentil e sereno. Nunca se envolveu em confusões ou discussões no grupo. “Nunca vi ele maltratar um cliente, um amigo”, diz Robison. “Nada que nos levasse a suspeitar de algo. Fomos pegos de surpresa.”
Outro amigo, Ricardo Mendizabal, reforça essa imagem:
“O Adalberto era uma pessoa boníssima, sempre prestativo. Quando soube do desaparecimento, pensei que ele tivesse tido uma crise de memória, que estivesse perdido. Jamais imaginei essa tragédia.”
O desaparecimento e o mistério
Adalberto desapareceu na noite de 31 de maio, durante o Festival Interlagos 2025 – Edição Moto. Três dias depois, em 3 de junho, seu corpo foi localizado dentro de um buraco em uma área de obras isolada e sinalizada, próxima ao autódromo. O funcionário de uma obra encontrou o corpo em uma região cercada por tapumes e barreiras de concreto.
Um detalhe perturbador: quando foi encontrado, Adalberto estava sem calças e sem tênis. Seu capacete, carteira e celular estavam próximos ao local. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, vestígios de sangue foram encontrados em seu veículo, e exames foram solicitados para confirmar se o material era mesmo dele.
Até o momento, não há sinais de violência direta visíveis: sem marcas de agressão, sem perfurações ou fraturas aparentes. O caso, segundo a SSP, segue sob investigação. Laudos periciais estão sendo finalizados, e familiares, amigos e testemunhas continuam sendo ouvidos.
“É como se ele tivesse sido abduzido e jogado dentro daquele buraco”, lamenta Robison. “Ninguém merece morrer dessa forma.”
Uma vida interrompida, um legado de união
O legado de Adalberto não termina no mistério. Ele será lembrado pela sua postura firme, sua solidariedade e por ser o elo de um grupo que começou com dor, mas se fortaleceu com afeto e propósito. “A gente não corria só por troféus. Corríamos pela vida, por quem precisava, pelas crianças de Janaúba. E ele sempre esteve lá”, lembra o amigo.
Agora, enquanto esperam por respostas, os amigos e familiares de Adalberto seguram firme na mesma força que os uniu: o desejo de transformar a dor em algo maior. E que, como aconteceu após a tragédia de 2017, essa nova ferida também inspire justiça, memória e solidariedade.
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