Januária e Itacarambi: sócio do Pedrinho no Supermercados BH é investigado por criação irregular de bois
Arte: Fachada de uma das unidades do Supermercados BH e bois criados no Parque do Peruaçu, em Januária, região Norte de Minas Gerais.
Arantes foi autuado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) por colocar bois para pastar em uma área de 22,7 hectares do parque. O local foi, então, “embargado” — ou seja, teve seu uso proibido. Porém, segundo a investigação conduzida pelo procurador do MPF, Frederico Pellucci, o empresário descumpriu o embargo. Por essa razão, foi multado em R$ 440 mil pelo ICMBio.
Sócio de 29 empresas e com forte atuação no setor agropecuário, Arantes é dono de pelo menos 11 fazendas, a maioria delas nos municípios de Januária e Itacarambi, no norte de Minas Gerais. O pecuarista acumula dezenas de multas de ICMBIo e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), além de órgãos ambientais de Minas Gerais. Somados, os valores chegam a quase meio bilhão de reais.
Sócio de 29 empresas e com forte atuação no setor agropecuário, Arantes é dono de pelo menos 11 fazendas, a maioria delas nos municípios de Januária e Itacarambi, no norte de Minas Gerais. O pecuarista acumula dezenas de multas de ICMBIo e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), além de órgãos ambientais de Minas Gerais. Somados, os valores chegam a quase meio bilhão de reais.
Arantes, no entanto, é mais conhecido por sua participação como investidor de grandes cadeias de varejistas, em negócios conjuntos com os filhos. É o caso do grupo DMA, dos supermercados Epa e Mineirão, com 181 lojas em Minas Gerais, e do Supermercados BH, a quinta maior rede do Brasil, com 300 unidades em Minas e no Espírito Santo.
Em abril, outro sócio do Supermercado BH — Pedro Lourenço, o Pedrinho — ganhou destaque nacional ao comprar as ações do Cruzeiro, antes propriedade do ex-jogador Ronaldo Nazário de Lima, o Fenômeno. Pedrinho e Arantes também atuam na diretoria da Associação Mineira de Supermercados, ambos como vice-presidentes.
Presença de gado compromete vegetação natural
De acordo com documentos enviados pelo ICMBio ao MPF, a Fazenda Minará, onde Arantes cria gado, está sobreposta a duas zonas da área de proteção ambiental localizadas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
De acordo com documentos enviados pelo ICMBio ao MPF, a Fazenda Minará, onde Arantes cria gado, está sobreposta a duas zonas da área de proteção ambiental localizadas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
Uma delas, a chamada “zona primitiva”, permite apenas pesquisa científica, monitoramento ambiental, visitação em caráter restrito, educação ambiental e fiscalização. A outra zona, de recuperação, impede qualquer tipo de degradação e determina a recuperação das áreas já exploradas.
“Uma área de beleza cênica e importância ecológica inestimáveis, exigindo atenção e comprometimento para garantir sua preservação a longo prazo”, justificam os fiscais do ICMBio em uma das multas.
A presença de gado causou a compactação do solo, o que dificulta a infiltração de água, aumenta o risco de erosão e impede o crescimento das raízes das plantas, comprometendo a regeneração natural da vegetação local, informam os técnicos do órgão federal.
Além da multa, a fiscalização determinou que o proprietário retirasse imediatamente o gado da área embargada e instalasse cercas para evitar novos impactos.
Na Fazenda Minará, fiscais do ICMBio já encontraram embalagens de agrotóxicos sem registro e com risco de contaminação. Também auturaram o fazendeiro por desmatamento ilegal e operação de uma serraria sem autorização. Ao todo, foram quatro infrações, num total de R$ 105 mil em multas.
Na Fazenda Minará, fiscais do ICMBio já encontraram embalagens de agrotóxicos sem registro e com risco de contaminação. Também auturaram o fazendeiro por desmatamento ilegal e operação de uma serraria sem autorização. Ao todo, foram quatro infrações, num total de R$ 105 mil em multas.
Um levantamento da Agência Pública apontou Arantes como o campeão de multas ambientais no Cerrado, quando são consideradas as unidades de conservação e parques, áreas de atuação do ICMBio. Entre 2009 e 2021, ele recebeu nove multas, todas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, somando R$ 16,8 milhões.
A maior delas, no valor de multa, de R$ 13,9 milhões, foi aplicada em 2017 por destruir uma lagoa marginal do Rio São Francisco, chamada de Lagoa Bonita, uma área de preservação permanente. No período de seca da lagoa, a vegetação nativa foi removida, a terra arada e plantado capim para pastagem dos bois. Segundo o ICMBio, a lagoa tem alta relevância para alimentação das aves da região, além de servirem de abrigo e descanso para aves migratórias.
Em outra fazenda, a Iporanga, o pecuarista foi autuado pelo Ibama por desmatar 60 hectares de vegetação e mata seca em regeneração nos limites do Parque do Peruaçu, em 2004. Quatorze anos depois, fiscais do ICMBio constataram que a área embargada estava sendo usada para pastagens. Ao todo, foram três multas, no total de R$ 225 mil reais. Já na Fazenda Massapê, duas multas somam pouco mais de R$ 1 milhão, pelo mesmo motivo: colocar gado para pastar em áreas de proteção do parque.
Empresário nega irregularidades
Em nota, o advogado José Cordeiro, que representa Arantes em processos decorrentes de infrações ambientais, disse que seu cliente respeita as leis. “Confiamos no trabalho do Ministério Público e também do Poder Judiciário na apuração dos fatos e no respeito ao contraditório e à ampla defesa”, informou.
Em nota, o advogado José Cordeiro, que representa Arantes em processos decorrentes de infrações ambientais, disse que seu cliente respeita as leis. “Confiamos no trabalho do Ministério Público e também do Poder Judiciário na apuração dos fatos e no respeito ao contraditório e à ampla defesa”, informou.
Outra nota, enviada pelo advogado Tércio Mercato após a reportagem procurar o grupo DMA, sustenta que as multas foram aplicadas em fazendas que não seriam de propriedade de Arantes e que uma perícia está em curso para averiguar os reais proprietários.
“Tenho certeza que após todo esse levantamento tanto o Ministério Público, assim como todo o poder Judiciário, trará o resultado da apuração e as verdades dos fatos. Sendo uma pessoa evangélica, um homem de Deus, confio plenamente na justiça do homem assim como na justiça divina”, diz a nota.
A Amis informou que não se pronuncia sobre assuntos particulares dos seus diretores. Procurado, o Supermercados BH não se posicionou.
Empresário foi preso em 2018
Conhecido como Waltinho, Arantes também já foi acusado de ser o mandante de ameaças a populações tradicionais nas margens do Rio São Francisco. Entre as estratégias de intimidações estão funcionários armados, abordagens agressivas e o voo constante de drones vigiando os passos de quilombolas e vazanteiros, conforme revelou a Repórter Brasil em reportagem publicada em 2021.
Conhecido como Waltinho, Arantes também já foi acusado de ser o mandante de ameaças a populações tradicionais nas margens do Rio São Francisco. Entre as estratégias de intimidações estão funcionários armados, abordagens agressivas e o voo constante de drones vigiando os passos de quilombolas e vazanteiros, conforme revelou a Repórter Brasil em reportagem publicada em 2021.
Ao ser questionado se pessoas contratadas por ele ameaçam os quilombolas, Arantes respondeu à época: “Desconheço totalmente essa informação, mas caso estes fatos sejam comprovados judicialmente, serão sumariamente demitidos. Sou contra qualquer tipo de violência.”
O empresário foi um dos 16 presos, em 2018, na Operação Capitu, da Polícia Federal, em um suposto esquema de corrupção envolvendo o Ministério da Agricultura. Também foram detidos na mesma operação o empresário Joesley Batista, sócio da JBS, e Antônio Andrade, então vice-governador e ex-ministro da Agricultura, entre 2013 e 2014. As prisões foram revogadas dias depois pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Com 56,8 mil hectares (quase duas vezes o tamanho de Belo Horizonte), o Parque do Peruaçu é uma área protegida desde 1999 e tem mais de 140 cavernas, 80 sítios arqueológicos e pinturas rupestres que remontam a cerca de 11 mil anos (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)
Documentos enviados pelo ICMBio ao MPF mostram que a Fazenda Minará, onde Arantes cria gado, está sobreposta a duas zonas da área de proteção ambiental localizadas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. (Foto: reprodução/MPF)
Fonte/Reprodução: Repórter Brasil
Comentários
Postar um comentário