Várzea da Palma: 'Nada vai mudar o que viveram, mas a prisão evita outros abusos sexuais', diz advogada de 10 vítimas após condenado a 113 de anos de prisão ser encontrado


(Por Michelly Oda, g1 Grande Minas) “Sensação de alívio e felicidade”, assim descreve a advogada Ana Luíza França, que defende 10 vítimas de Dinamá Pereira de Resende, condenado por abusar sexualmente de várias crianças e adolescentes na década de 1980 em Várzea da Palma. Ele foi preso no último sábado (11) em Belo Horizonte.

Segundo a advogada, o mandado e prisão foi expedido em 12 de abril e Dinamá foi condenado a 113 anos de prisão por estupro de vulnerável contra sete vítimas, já que alguns crimes já haviam prescrevido. Ele chegou a pegar uma pena e 87 anos, mas Ana Luíza França e o Ministério Público recorreram. Esgotados todos os recursos, os desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais estipularam a nova pena.

“As vítimas entendem que nada vai mudar o que elas viveram e o sofrimento que tiveram, mas elas sabem que a prisão dele evita que outros abusos sexuais", completa a advogada.

Conforme noticiou o g1, Dinamá Pereira de Resende foi encontrado no bairro Copacabana. A prisão dele foi feita pela Patrulha Unificada Metropolitana de Apoio (Puma). Segundo os policiais envolvidos na ação, o condenado usava o nome falso "João" para dificultar ser identificado. O g1 não conseguiu localizar a defesa dele até a atualização mais recente desta reportagem.

"Depois da prisão, quatro mulheres me procuraram no Instagram e relataram que também foram abusadas. Ele sempre tinha o mesmo modo de agir, se passava por bom moço e agia em lugares e situações nos quais não levantaria suspeitas", destaca Ana Luíza.

Entenda o caso
Em dezembro de 2020, o g1 noticiou que 14 mulheres denunciaram à Polícia Civil que foram vítimas de estupro na infância em Várzea da Palma (MG). Elas acusam o mesmo homem, Dinamá Resende. Segundo as investigações, ele promovia atividades culturais e religiosas na cidade desde 1980.

As investigações apontavam, segundo o delegado Guilherme Vasconcelos, que Dinamá criava os grupos infantis para ter acesso às crianças, "principalmente crianças carentes, que viviam em lares sem estrutura mínima, em uma ambiente de extrema vulnerabilidade."

A polícia chegou a pedir a prisão dele, que permanece em liberdade, mas foi obrigado a cumprir medidas cautelares, como se manter afastado dos trabalhos desenvolvidos e não ter contato com crianças.

“O investigado se aproveita do descrédito que se dava a palavra de uma criança, tentando dissimular comportamento sexual como se fosse afetuoso.

As vítimas relataram ainda que os abusos eram cometidos de diversas formas, de toque à conjunção carnal.

O delegado acreditava que o número de vítimas pode ser maior, já que muitas têm dificuldades em denunciar e o próprio Dinamá admitiu em depoimento que já trabalhou com mais de 5 mil crianças.

Primeira denúncia
A denúncia que motivou a abertura do inquérito policial foi feita por Ana Paula Fernandes dos Santos. Ela fez um post em uma rede social e também procurou pela polícia em outubro de 2019.

“Ele não é o palhaço bonzinho que gosta das crianças, ele é um doente, monstro”, disse no post.

Antes de fazer a denúncia e a postagem, ela lembra que entrou em uma rede social e viu Dinamá em uma foto rodeado por crianças. Com o apoio do pai e do marido, decidiu contar tudo o que viveu.

“Eu pensei que aquilo precisava parar, que alguém precisava dar um basta.”

Ana Paula revela ter sofrido o abuso quando tinha entre oito e nove anos. Ela estava na escola quando foi convidada pelo homem a participar das atividades que ele desenvolvia. A menina tinha o sonho de ser modelo e aceitou entrar para as Dinamitas, um grupo de dança. Ela também participava dos terços promovidos pelo investigado.

“Ele é assim, chega e ganha a confiança. Se faz de pessoa que está ali para cuidar e passa essa segurança. Antes de envolver a criança, ele se aproxima da família”, contou na reportagem de 2020 feita pelo g1.

O pai de Ana trabalhava como fotógrafo e chegou a registrar eventos promovidos por Dinamá.

Ela disse que o abuso ocorreu em 2004, quando o homem foi à casa dela para levá-la a um comício. Ele era candidato a vereador na época e usava crianças para distribuir o material de campanha

“Fomos na moto levando alguns santinhos para distribuir. Ele disse que precisava de mais alguns e que iria passar na casa dele para pegar. Mas ele já sabia que não tinha ninguém no local. Fui jogada na cama e ele tirou minha roupa. Pedi para que parasse e disse que sentia dor. Depois, ele vestiu minha roupa, me colocou na moto e me levou para casa, como se nada tivesse acontecido”.

Ana Paula fala ainda que na época não tinha a completa noção do que viveu e que não contou nada a ninguém por medo e vergonha. A solução encontrada para desabafar foi escrever cartas, que depois eram queimadas.

“Espero o fim dessa cultura do machismo, muitas mulheres denunciam e ainda têm os dedos apontados para elas. Vejo que estão ganhando uma voz forte e conseguindo muitas conquistas, mas há muito o que melhorar. Meu desejo é que elas não tenham medo de falar, que não se calem por nenhum motivo.”

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