Após 8 meses, prejuízos com a seca chegam a R$ 1 bilhão
Grande parte dos rios do norte de Minas estão com pouca água |
A seca que já dura oito meses nas regiões norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, já causou um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão aos produtores rurais com a morte de pelo menos 25 mil cabeças de gado e a perda de quase 320 mil t de grãos. Mais de 120 cidades já decretaram situação de emergência.
“Já morreu 1% das cabeças de gado em um montante de cerca de 2,5 milhões que são criadas na região. É um prejuízo muito grande com alimentação, água, grão e outros. A produção de leite já foi reduzida para 50%, e muitas propriedades deixaram de produzir por conta da seca”, revelou o coordenador regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Estado de Minas Gerais, Ricardo Peres Demichelli. “Outra preocupação é o fenômeno El Niño, que pode chegar à região e atrasar o período de chuvas, que deverá ocorrer no começo de novembro, e isso pode causar a perda de mais 200 mil cabeças de gado – entre as que poderão morrer de fome e sede e as que os criadores serão obrigados a vender por preços cerca de 40% mais baratos”, disse.
O longo período de estiagem, geralmente de fevereiro a novembro, é comum nessa região do País, porém a seca deste ano é a pior registrada nos últimos 15: “Quase todos os rios da região secaram e somente os de grande porte continuam com água, mas já estão em seus limites, podendo secar por completo se a seca continuar por um período maior do que o esperado,” revelou.
De acordo com o balanço da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec-MG), até esta sexta-feira, 121 cidades mineiras já haviam decretado situação de emergência devido à falta de chuva, todas nas regiões norte, vale do Jequitinhonha e vale do Mucuri.
O prefeito do município de Berilo, no Jequitinhonha, Lázaro Pereira Neves, disse que a situação na cidade é bastante critica: “Cerca de 75% das comunidades rurais estão sem água até para cozinhar, é a pior seca dos últimos 15 anos. A Defesa Civil nos ajuda mandando algumas cestas básicas, mas não é o suficiente para atender toda a população. Estamos precisando de ajuda do governo”, disse.
O tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do vale do Jequitinhonha, Lucas de Araújo, disse que a população rural é a mais prejudicada. “Está feia a coisa por aqui, a situação está caótica. Quando aparece água por aqui, ela é distribuída por um caminhãozinho que cabem 5 mil l d’água para toda região, não dá para nada”.
Ainda de acordo com Araújo, os preços dos alimentos subiram bastante devido à escassez e à quebra da produção agrícola: “Tudo aqui subiu de preço, até o leite”. O sindicalista contou que muitas famílias têm deixado as casas na zona rural para fugir da seca: “Os trabalhadores rurais estão vindo para a cidade ficar na casa de parentes porque não estão tendo como ficar na roça, pois só tem seca e está faltando pasto para os animais. Não tem como eles viverem nessa situação”, afirmou.
O lavrador Itamar José Gonçalves, que mora no distrito de Ribeirão, em Berilo, reclama da falta de água. “A crise aqui está feia, o rio secou e a gente tem que caminhar 2 km para buscar água para poder cozinhar e tomar banho. A água não é limpa e ficamos com medo de ficar doente”, disse.
O presidente da associação comunitária de Ribeirão, José Gonçalves, disse que trabalha “dia e noite” para ajudar os moradores de sua comunidade. “O rio secou e a bomba que tem não atende todo mundo. Foi uma grande dificuldade para ligar a bomba e tivemos que pegar energia emprestada. A única água que temos aqui é empoçada e de má qualidade, não dá para fazer muita coisa. O caminhão pipa ajuda, mas não é o suficiente para ajudar todos. Tem dias que alguns tem água e outros não”, revelou.
Ajuda
A Cedec-MG informou que até o final deste mês de setembro iria distribuir 815 t de alimentos para as famílias de baixa renda atingidas pela seca. A coordenadoria disse ainda que já atendeu 79 municípios com a distribuição de água por meio de 152 caminhões pipa, além de 88 cisternas, cada uma com capacidade para armazenar 8 mil l de água. Outros 1.243 devem ser distribuídas até outubro.
O chefe do Gabinete Militar do Governo do Estado e coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Luis Carlos Dias Martins, disse que todos os municípios que estiverem enfrentando problemas por causa da seca serão atendidos com ajuda humanitária. “A ação do Estado acontece de maneira complementar a das prefeituras. A ajuda aos municípios ocorre mediante solicitações encaminhadas pelos prefeitos e comprovação da necessidade por decreto municipal de situação de emergência ou estado de calamidade pública”, afirmou. Os investimentos do Estado nas ações chegam a R$ 11 mi, segundo informou a Cedec.
No último dia 24, o Comitê Executivo Estadual do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Água de Minas Gerais – Água para Todos – reuniu-se na sede do governo mineiro e os membros aprovaram ações para a região do semiárido mineiro e entorno e que serão realizadas em parcerias com os ministérios da Integração Nacional e de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
O governo de MG informou que prioritariamente serão beneficiados os 85 municípios do semiárido mineiro. Deste total, 49 municípios são do norte do Estado, 35 do vale do Jequitinhonha e um do vale do Mucuri. Serão atendidas famílias da zona rural e de baixa renda, que se enquadrem no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadúnico). O processo de seleção é realizado com a participação da sociedade civil, por meio dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS).
As obras a serem executadas são: construção de cisternas de placas/alvenaria (consumo humano e produção de alimentos); implantação de cisternas de polietileno; construção de barragens e bacias de captação de água de chuva; e implantação de sistemas simplificados de abastecimento de água em comunidades rurais.
Também deverão ser construídas barragens de perenização e/ou acúmulo de pequenos cursos d’água. As obras têm como objetivo aumentar a oferta permanente de água, garantindo a sobrevivência e a viabilização da irrigação de pequenas hortas.
Por Ney Rubens
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