Moradores estabelecem toque de recolher com medo da violência em Janaúba

Funcionários de posto de combustível que funcionava 24 horas por dia fecham estabelecimento às 22h
(Por Luiz Ribeiro) Medo de sair de casa, reforço na segurança das residências, pessoas evitando ficar sozinhas, e o comércio mudando seus horários de funcionamento. Os moradores de Janaúba, no Norte de Minas, acostumados a viver em uma cidade tranquila, estão mudando seus hábitos por causa do aumento assustador da criminalidade. Até julho, a Polícia Militar registrou 18 homicídios, contra 10 nos primeiros sete meses do ano passado. Os arrombamentos aumentaram 27,3% de janeiro a julho de 2012 em relação ao mesmo período de 2011. Os postos de gasolina não abrem mais 24 horas por dia e as casas estão virando verdadeiras fortalezas com a instalação de cercas elétricas, grades de aço (concertina) nos muros, alarmes e câmeras.
No ano passado, entre janeiro e julho, a PM registrou 128 arrombamentos a residências em Janaúba, enquanto no ano inteiro foram 247. Neste ano, também até julho, já são 163 ocorrências. “Estamos absorvendo o lado ruim das cidades grandes, que é falta de paz. Janaúba perdeu o clima de cidade do interior. As pessoas não podem mais sentar na porta para conversar. Não existe mais interação entre os vizinhos”, afirma o morador Ronaldo Carvalho de Oliveira. Ele é gerente de um posto de combustíveis localizado numa das avenidas mais movimentadas do município. Assim como seus concorrentes, passou a fechar o posto todos os dias às 22h. Gerente de outro posto de gasolina na cidade, Heleno Paulo Fernandes conta que seu estabelecimento já foi assaltado. Por isso, decidiu fechar as portas às 22h. “O funcionamento era 24 horas por dia. Mas vimos que não compensa por causa do risco de assaltos no período entre as 22h e as 6h”, diz Heleno.
O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Janaúba (Assinam), Geraldo Miguel Soares, relata que as vítimas não são só os postos de combustíveis. Os assaltos estão ocorrendo em todo tipo de comércio. “Minha farmácia foi assaltada exatamente no dia que viajei para Belo Horizonte para participar de uma reunião com o objetivo de solucionar o problema da falta de segurança na cidade”, conta Geraldo. Um dos problemas, para ele, é a falta de um centro socioeducativo para adolescentes no município. Segundo Geraldo, sem qualificação ou oportunidades, os jovens são atraídos pelo tráfico de drogas e cometem assaltos e arrombamentos sabendo que se forem capturados não sofrerão punição, já que falta um lugar para onde encaminhá-los. Ele também cita a necessidade de aumento do efetivo de policiais militares nas ruas.

Madrugada
Leila Borborema Porto é comerciante, mas foi em casa que se deparou com a violência. Há três meses, a residência onde mora com a família no Bairro São Gonçalo foi invadida por dois homens de madrugada. Ela conta que os bandidos entraram após arrombarem uma janela e levaram dois notebooks e outros objetos de valor. Depois disso, Leila reforçou a segurança da casa. Instalou cerca elétrica, concertina e câmera de vídeo. Ainda assim, conta, os equipamentos não a deixaram tranquila. “Não tenho mais coragem de ficar sozinha em casa. Estou sempre com medo”, diz.
O tenente do 51º BPM Guilherme Rodrigues Santos afirma que Janaúba, que tem 75 mil habitantes, sofre com a mesma onda de violência verificada em outras cidades do mesmo porte. Mas reconhece que o aumento do tráfico de drogas e o consumo do crack contribuem para o aumento dos homicídios. Ele também diz que a falta do centro de internação de adolescentes infratores tem favorecido a criminalidade. “Sem um local para o encaminhamento dos menores, aqueles adolescentes envolvidos em delitos acabam vivendo uma sensação de impunidade.”

Saiba mais

Terra das bananas
Janaúba, com cerca de 75 mil habitantes, é a segunda maior cidade do Norte de Minas, atrás de Montes Claros, e tem como principal atividade econômica a agricultura. O município ostenta o título de maior produtor nacional de bananas. São cerca de 5,4 mil toneladas do fruto saindo toda semana com destino a Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e outros mercados. Com o passar dos anos, outras frutas começaram a roubar a cena com um incentivo à produção de uva, limão e manga, principalmente, por meio de projetos de irrigação.

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