Porteirinha e Espinosa estão entre as cinco escolhidas no Brasil para sediar projeto pioneiro de diagnóstico rápido da doença de Chagas
Lideranças e pesquisadores da doença de Chagas se reuniram em Espinosa — Foto: Keity Emanuelle Sousa/ Arquivo pessoal
Também serão contemplados os municípios de São Desidério, sediado na Bahia; Iguaracy, em Pernambuco; e São Luís de Montes Belos, em Goiás.
A implementação do Kit NAT Chagas foi divulgada pela Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, nesta quarta-feira (08). A iniciativa de implementação e financiamento do Projeto é do Ministério da Saúde e faz parte do programa Integra Chagas, coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas em parceria com a Universidade Federal do Ceará.
A previsão, segundo a Superintendência, é de que o projeto seja implementado no Norte de Minas Gerais até julho de 2024. Nos demais municípios prioritários definidos pelo Ministério da Saúde, a conclusão das atividades está prevista para agosto do próximo ano.
Em nota divulgada à imprensa, a superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques avalia que a iniciativa como um avanço na área da saúde regional. Nesta semana, estão sendo realizados encontros nas duas cidades norte-mineiras para a implantação do projeto. Nesta terça, foi a vez de Espinosa receber o encontro, e nesta quarta e quinta, Porteirinha que está recebendo o encontro.
“A inserção de municípios do Norte de Minas Gerais no grupo prioritário para a intensificação das ações de diagnóstico rápido da doença de chagas constitui iniciativa importante, pelo fato de se tratar de um dos principais agravos de saúde ainda predominantes na região e que precisa ter uma atenção especial por parte do poder público”.
A SES-MG está sendo representada nos encontros pelas referências técnicas, Nilce Almeida Lima Fagundes e Bartolomeu Teixeira Lopes, que atuam nas Coordenadorias de Vigilância em Saúde e Vigilância Epidemiológica da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros. Também participam dos encontros Swamy Lima Palmeira, Rafaela Silva e Natiela Oliveira, representando o Grupo de Trabalho da Doença de Chagas do Ministério da Saúde; as pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia e da Fiocruz, Eliana Amorim e Lileia Gonçalves, respectivamente; e o epidemiologista e infectologista da Universidade Federal do Ceará, Alberto Novaes.
Nova tecnologia
Constança Felícia Britto, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo, explicou, em nota, que atualmente a confirmação laboratorial da doença de Chagas é feita por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito Trypanosoma cruzi em amostras de sangue. “Em comparação, o teste molecular é mais sensível, pois consegue identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra, o que não é possível no exame parasitológico”.
Constança Felícia Britto, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo, explicou, em nota, que atualmente a confirmação laboratorial da doença de Chagas é feita por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito Trypanosoma cruzi em amostras de sangue. “Em comparação, o teste molecular é mais sensível, pois consegue identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra, o que não é possível no exame parasitológico”.
Conforme a pesquisadora, a identificação do parasito com o Kit NAT Chagas também é feita a partir de amostras de sangue. O procedimento demora entre quatro a cinco horas e pode ser executado em qualquer laboratório equipado para aplicar a metodologia PCR. Isso permite a descentralização do diagnóstico e agilidade na obtenção de resultados, além da padronização dos testes utilizados em diferentes centros.
Devido à alta sensibilidade e especificidade, Constança destaca que o diagnóstico molecular pode trazer avanços para a identificação de casos agudos de doença de Chagas, especialmente em recém-nascidos, que podem contrair a infecção durante a gestação ou no parto, quando a mãe é portadora do Trypanosoma cruzi. A doença também pode ser diagnosticada durante surtos de infecção oral, que atualmente constituem a forma mais comum de transmissão devido à ingestão de alimentos contaminados.
“Esperamos que o Kit NAT Chagas possa aumentar o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento das pessoas com doença de Chagas, que são negligenciadas e têm dificuldade de acesso à saúde”.
Sobre a doença de Chagas
Por meio de nota, a coordenadora de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, comentou que assim como outras doenças negligenciadas, a Chagas está associada a condições de vida de vulnerabilidade. A doença é transmitida pelos insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros.
Por meio de nota, a coordenadora de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, comentou que assim como outras doenças negligenciadas, a Chagas está associada a condições de vida de vulnerabilidade. A doença é transmitida pelos insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros.
“Trata-se de uma das doenças tropicais negligenciadas mais silenciadas. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio”, explicou a coordenadora. Ela disse, ainda, que diante da grandeza dos números do cenário epidemiológico, a doença precisa de permanente atenção por parte do poder público.
Estimativa da Fundação Oswaldo Cruz aponta que aproximadamente 12 mil pessoas morrem anualmente por causa de Chagas em todo o mundo. Desse total, cerca de 8 mil vítimas são bebês que se infectaram durante a gravidez ou no parto.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2010, 34.629 gestantes tiveram diagnóstico de infecção e estima-se que 589 crianças nasceram com infecção congênita. Por outro lado, a Fiocruz aponta que “são inúmeras as barreiras existentes para o acesso da população a diagnósticos e tratamento da doença de Chagas, a maior delas, a educação. Apenas 1% ou menos daqueles que poderiam se beneficiar obtendo a cura da doença ou a prevenção para formas sintomáticas crônicas, tem real acesso ao tratamento. Em geral, os diagnósticos ocorrem na fase tardia, quando já há comprometimento crônico e complicações, com grave prejuízo às pessoas, suas famílias e comunidades, além de elevado custo ao sistema de saúde”.
Em virtude dessa situação epidemiológica, a Portaria 1.061, publicada dia 18 de maio de 2020 pelo Ministério da Saúde, determina que os serviços de saúde além de oferecer diagnóstico e tratamento também deverão fazer a notificação compulsória da doença de Chagas. Com isso, será possível criar um banco de dados e ter indicadores que permitam fazer análises epidemiológicas mais precisas para fortalecer a política de controle da doença no país.
Comentários
Postar um comentário