RUY MUNIZ COM OS NERVOS À FLOR DA PELE

Início do período das convenções partidárias e prisão domiciliar minam a confiança do prefeito afastado

(Por Luís Cláudio Guedes) Quem visitou a mansão Ruy Muniz (PSB), no Bairro Ibituruna, nas ultimas semanas percebeu que o empresário e prefeito afastado de Montes Claros anda tenso e dispersivo na maior parte do tempo. Interlocutores relatam que o prefeito afastado demonstra algumas variações de humor e muda o rumo da prosa sem aviso prévio. Muniz não esconde o inconformismo com a sua situação de preso domiciliar há quase dois meses, condição que dificulta as articulações políticas para a própria sucessão – hipótese que ele ainda alimenta.

O nervosismo de Ruy só cresce à medida que se aproxima o prazo final para a definição das candidaturas para a sucessão municipal. As convenções estarão liberadas a partir da próxima quarta-feira e o prazo para registro dos nomes dos candidatos termina em menos de um mês. Ruy Muniz tem recebido políticos para falar sobre a situação política local e regional, mas a prioridade de sua agenda são mesmo os advogados e a elaboração do rascunho do que pode vir a ser seu plano de governo para eventual retorno à sucessão municipal. Alguns dos seus interlocutores relatam que a eloquência natural de Muniz às vezes cede espaço para alguns apagões no raciocínio.

Não escapa aos visitantes da ‘Gaiola de Ouro’, apelido que os adversários deram à mansão de Ruy, o detalhe de que o prefeito afastado não perde de vistas o aparelho celular com o qual supostamente manteria contato com seus advogados aqui em Brasília, onde corre o processo que pode ou não liberá-lo da prisão domiciliar.

Ele já interrompeu conversas com lideranças políticas da região para atender seus advogados, profissionais que ganharam o status de prioridade máxima da sua rotina e agenda. O prefeito tem enfrentado sucessivos reveses desde que foi preso pela Polícia Federal, no dia 18 de abril, durante a segunda fase da operação “Máscaras da Sanidade II – Sabotadores da Saúde”, que investiga suposto uso do cargo numa espécie de concorrência desleal para favorecimento de hospital de sua propriedade, em prejuízo das unidades sem fins lucrativos cadastradas no SUS.

Os dias mais sensíveis para o prefeito afastados são as quartas-feiras, quando o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, aqui em Brasília, avalia e procrastina o assunto – que deve voltar à pauta no próximo dia 27. Muniz enfrenta, há quase dois meses, a ansiosa expectativa para que a Justiça o libere da prisão domiciliar para, finalmente, voltar ao jogo político.

A prisão mudou radicalmente os planos do empresário Muniz, que tinha, até o início deste ano, boas chances de garantir um segundo mandato à frente da Prefeitura de Montes Claros.
Sem recursos para as inaugurações grandiosas que prometeu durante a primeira campanha, ele investiu em obras estratégicas e pontuais. Em lugar dos trens padrão europeu que ligariam o centro às periferias de Montes Claros, sua gestão apostou em pequenas intervenções de interligação entre os bairros, e dali para o centro. Pavimentação de ruas na periferia e construção de acessos entre os bairros resumem a marca da atual administração.
Apesar de ter comprado brigas políticas – algumas até desnecessárias – com empresários do setor da saúde, o governo estadual e até mesmo com o Ministério Público e a Polícia Federal, Ruy Muniz tinha, até antes da prisão, capital político que poderia lhe garantir a reeleição. O ex-deputado federal Humberto Souto (PPS) é o nome que mais perigo representava aos seus planos de continuidade, mas dificilmente conseguiria barrar Muniz no decorrer da campanha eleitoral. Pelo menos não com o discurso de que é o único ético em meio à deterioração geral da política.

Detido na mansão do Ibitiruna, Muniz rói as unhas enquanto assiste ao seu vice e agora prefeito interino, José Vicente Medeiros (PMDB), tomar gosto pelo cargo. Os antigos aliados Jairo Ataíde (DEM) e a mulher Ana Maria Resende (PSDB) têm dados sinais de que pretendem surfar no vácuo deixado pela saída de cena de Ruy. Nem mesmo a profissão de fé dos articulistas do Jornal ‘O Norte’, que gastam tinta e papel para elevar o moral do ‘chefe’ parece ajudar.
Neste sábado, por exemplo, o jornal trz em manchete que o PSB confirma Ruy como candidato - o que não quer dizer nada se ele não resolver suas pendências judiciais. Para além disso, o colunista Artur Leite mandou ver em seu espaço no jornal do prefeito afastado:

“Caro Ruy,

Sinceramente, eu nunca havia captado um sentimento de tanta solidariedade como em seu caso, que vai servir de exemplo por todo o Brasil, ou seja, queria que alguém explicasse juridicamente como é que conseguem colocar um empresário educacional e também prefeito de uma grande cidade na cadeia, tendo como argumento que o personagem teria ameaçado de morte figuras representantes de hospitais denunciados, sem nenhuma prova nos autos, segundo juristas que tiveram acesso ao processo”.

Não se deve esperar razão e discernimento da cortesania, porque servir de exemplo para o Brasil é tudo que Ruy procura evitar depois que a mulher e deputada federal, Raquel Muniz, pronunciou aquele ‘sim, sim, sim’ no dia da votação do impeachment contra a também afastada presidente Dilma Rousseff, quando citou a administração de Montes Claros como referência para o país a poucas horas da prisão do prefeito.

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