Morte de idoso de Patis por suspeita de coronavírus é investigada em Montes Claros; 'Ele dizia que era coisa da mídia e viajou para SP'

Cláudio Manoel Ricardo estava internado no Hospital
Aroldo Tourinho e morreu nessa quarta-feira (1) — Foto: Arquivo pessoal

(G1) A Prefeitura de Montes Claros confirmou nesta quinta-feira (2) a morte de um idoso, de 69 anos, por suspeita de Covid-19. Ele estava internado no Hospital Aroldo Tourinho e faleceu na noite de quarta (1); foi feita coleta de material para exame e o resultado ainda é aguardado. O caso ainda não foi notificado pelo Estado e nem pelo Ministério da Saúde.

Em entrevista ao G1, o filho do idoso, Claudinei dos Santos Ricardo, contou que o pai apresentou os sintomas depois de retornar de uma viagem para São Paulo.

“Infelizmente, meu pai não levou isso a sério, ele dizia que era coisa da mídia. Quando resolveu viajar, eu o alertei para não ir e mesmo sabendo dos riscos, ele foi porque não acreditava na doença. Meu pai era 100% saudável, não tinha problema de saúde e tinha feito um check-up recentemente”.

Cláudio Manoel Ricardo era natural de Patis, no Norte de Minas, mas morou em São Paulo por mais de 20 anos, onde se aposentou como metalúrgico. Ele viajou no dia 27 de fevereiro para rever a família.

“Ele chegou em Montes Claros em 16 de março e apresentou os sintomas na madrugada do mesmo dia. Sentiu febre, dor no corpo e dificuldade respiratória”, disse o filho.

O idoso morreu as 18h30 dessa quarta e corpo foi enterrado nesta quinta-feira sem velório. Segundo a funerária, foram seguidas as recomendações das autoridades de saúde e o corpo saiu do hospital na urna lacrada direto para o cemitério. Somente cinco familiares acompanharam o sepultamento.

“Foi traumático, uma pessoa com história de vida dele ser enterrado dessa forma sem nenhuma homenagem. Meu pai era muito honesto, de bem com a vida e tinha muitos amigos”.

Família reclama do atendimento
“A família está muito indignada, eu acho que não teria chegado ao estado que ficou e poderia ter chance de ter sobrevivido”, esse foi o desabafo de Claudinei dos Santos Ricardo ao reclamar do atendimento que o pai recebeu nos hospitais de Montes Claros.

Ele conta que o pai procurou o PSF no dia 17 de março com sintomas leves e a médica recomendou que ele ficasse isolado e tomasse dipirona.

“Depois ela fez uma visita domiciliar e percebeu uma piora grande e deu um encaminhamento para o Hospital Universitário, mas os médicos disseram que não era caso de internar e mandaram voltar para casa”.

A família diz que recebeu a visita da médica novamente e ela orientou que o idoso retornasse ao Hospital Universitário.
“Como já tínhamos ido lá, resolvemos procurar atendimento particular no Hospital Dilson Goldinho, mas eles não quiseram atender. No dia seguinte, meu pai foi atendido no Hospital Aroldo Tourinho e a médica fez um raio-x e mandou ele voltar para casa porque não tinha dado alteração”.

Ainda de acordo com relatos do filho, a profissional do PSF teve acesso ao exame que foi fotografado pelo celular e disse que havia indícios de que o idoso estava com pneumonia. “Ela chamou o Samu, e só assim ele conseguiu ser internado e ficou aguardando vaga no CTI”.

A internação, segundo a família, foi na última sexta-feira (27) e o idoso foi entubado no domingo.

“Na segunda ele piorou muito, na terça se agravou mais e ontem ele teve infecção generalizada e não resistiu. Não temos nenhuma reclamação da atenção primária, mas o sistema de saúde está desorganizado para receber as pessoas e informar corretamente”.

O que dizem os hospitais e o município
A Secretária Municipal Saúde, Dulce Pimenta, informou que a equipe de epidemiologia está apurando se houve recusa do hospital para internar o paciente e se ficar comprovado, as providências serão tomadas.

O G1 procurou os três hospitais que foram mencionados pela família. Em nota, o Hospital Universitário Clemente de Faria esclareceu que o idoso esteve no Pronto Socorro no dia 23 de março, às 12h30min, encaminhado de um PSF. " Na classificação de risco da triagem, conforme protocolo de Manchester adotado pelo HUCF, não foram constatados os sintomas da Covid-19, como febre, dor de garganta, dentre outros sintomas", diz a nota.

O HU disse também que foram "seguidos todos os protocolos e fluxos preconizados pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na classificação do paciente, e que por isso ele foi referenciado ao seu domicílio".

O Hospital Aroldo Tourinho, também informou que prestou todo o atendimento necessário e adequado ao paciente. Já o Hospital Dilson Goldinho esclareceu que não consta nos registros que o idoso tenha buscado atendimento na Unidade.

Casos em Montes Claros
Até a publicação desta reportagem, a Prefeitura de Montes Claros informou que contabiliza 702 casos; 532 são investigados; 155 foram descartados por critérios clínicos e 15 por exames. Até o momento, 40 pacientes ainda aguardam resultado de exames. Oito pessoas permanecem internadas em Montes Claros, três são de outros municípios.

No boletim do Estado, constam 417 casos suspeitos e um descartado.

Cuidados em casos de óbito com suspeita de coronavírus

As autoridades de saúde elaboraram uma nota técnica com normas para serem seguidas em caso de morte de pessoas com sintomas compatíveis aos da Covid-19. Há recomendações para funerárias, velórios, salas de autópsia, transporte e cuidados com o corpo. Especificamente sobre os funerais:

Deverão decorrer com o menor número possível de pessoas, preferencialmente apenas os familiares mais próximos, para diminuir a probabilidade de contágio e como medida para controlar os casos de Covid-19. Essa medida visa evitar aglomerações de pessoas e diminuir a probabilidade de contágio;

As pessoas que comparecerem ao funeral devem seguir as medidas de higiene das mãos e de etiqueta respiratória, em todas as circunstâncias;

Disponibilizar água, sabonete líquido, papel toalha e álcool líquido ou gel a 70% para higienização das mãos;

Evitar apertos de mão, abraços e outros tipos de contato físico entre os participantes do funeral;

Recomenda-se que as pessoas dos grupos mais vulneráveis (sintomas respiratórios, idosos, crianças, grávidas e pessoas com imunossupressão ou com doença crônica), não participem nos funerais;

Recomenda-se que o caixão seja mantido fechado durante o funeral, para evitar contato físico com o corpo.

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