Após décadas de espera, matriz do século 17 será restaurada em Matias Cardoso
Matriz, do século 17, é tombada pelo Iphan: primeira etapa da reforma contemplará, entre outras coisas, janelas e portas (detalhe) |
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1954, a obra demandou, para deslanchar de vez, uma força-tarefa formada pela autarquia federal, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), Ministério Público, por meio da Coordenadoria das Promotorias de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC-MG), prefeitura local e recursos de R$ 144 mil do Serviço Social da Indústria (Sesi) da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Conforme acordo firmado, uma equipe do Iphan de Diamantina seguirá na sexta-feira para Matias Cardoso a fim de acompanhar os serviços.
Segundo o padre Daniel, a primeira etapa vai contemplar a cobertura da construção, portas e janelas, madeirame, alvenaria, acerto do terreno, construção de um passeio lateral para evitar entrada de água e pintura externa. “Os serviços emergenciais vão garantir segurança e também acabar com as goteiras e infiltrações, que danificam o templo”, explica. A próxima etapa, cujo projeto está em elaboração, inclui a parte estrutural e elementos artísticos. “Felizmente, a estrutura está boa, com exceção do forro do altar-mor”, destacou.
O secretário municipal de Cultura, Luiz Mário Cardoso da Silva, também aguarda com ansiedade o início da intervenção. “Os reparos nas portas são de grande importância”, afirma. Em agosto de 2008, ladrões furtaram da matriz as imagens de Santa Maria, Sant’Anna e São Miguel. As três com 50cm de altura estavam em dois oratórios da igreja e são de origem portuguesa, da mesma época de inauguração do templo católico. Na época, um zelador contou que, de manhã, encontrou uma das três portas da frente arrombada. No interior do templo, foram encontrados, no chão, uma chave de fenda, o Menino Jesus que estava no cola de Santa Maria, a balança de São Miguel, e um pedaço de um dos dedos de uma imagem (não identificado de qual) e um resto de cigarro. Até hoje os objetos sacros estão desaparecidos.
Construída entre 1670 e 1695 e de arquitetura simples, a igreja de Matias Cardoso recebeu pequenos consertos nos últimos anos, mas o último trabalho de restauro ocorreu há mais de 100 anos. Os elementos artísticos foram os mais atingidos. “Trata-se de um bem de relevância para a população da cidade, que considera essa a primeira igreja de Minas” – de acordo com especialistas, a primazia de ter a primeira igreja matriz de Minas é disputada por moradores de Sabará e Raposos, na Grande BH. Em Sabará, por exemplo, documentos queimados no início do século 20, por um padre, impedem a identificação da data exata.
Forma de fortaleza
A história da Matriz de Matias Cardoso está ligada a incursões de bandeirantes paulistas no sertão mineiro em busca de ouro e pedras preciosas. Constam como fundadores do Arraial de Morrinhos, hoje Matias Cardoso, os sertanistas Matias Cardoso de Almeida, seu filho Januário Cardoso e Antônio Gonçalves Figueiras, entre outros, que desbravaram o território entre o morro do Chapéu e as vertentes do rio Pardo, até a confluência do rio das Velhas, afluente do São Francisco. Januário Cardoso foi o principal benfeitor do arraial, assim como edificador da igreja. A edificação, em forma de fortaleza, apresenta boa qualidade construtiva, com estrutura em alvenaria de tijolos requeimados. Cercando a construção, muro com colunas nos ângulos e nos portões. Chamam atenção desenhos de influência indígena nos pilares externos e sobre os retábulos.
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