Filho de carroceiro derrota milionário na disputa pela Prefeitura de Porteirinha

(EM) Ter dinheiro no bolso, sem nenhuma dificuldade para gastar na campanha, é importante para ganhar uma eleição? Nem sempre. É o que mostra a vitória do ex-vendedor ambulante Silvanei Batista (PSB), prefeito eleito de Porteirinha, município de 37,6 mil habitantes, a 590 quilômetros de BH, no Norte de Minas. Filho de carroceiro, Silvanei derrotou o atual prefeito, o empresário e pecuarista Juraci Freire Martins (PP), que declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 24,4 milhões (o terceiro maior entre os candidatos a prefeito do interior de Minas neste ano), incluindo cerca de 20 mil reses, 32 fazendas e 12 casas. Já a declaração de bens de Silvanei foi de apenas R$ 13,5 mil (uma moto Titan 2005 no valor de R$ 4,5 mil, e uma Parati modelo 1992, avaliada em R$ 9 mil.
“A minha eleição prova que, para a gente ser alguém na vida, não precisa ter dinheiro. Tem de ter coragem, humildade, caráter e respeitar as pessoas”, afirma o prefeito eleito, que é vereador. “Fui o único vereador que teve coragem de fazer oposição e enfrentar o poder do prefeito”, completa.
Silvanei, de 34 anos, casado e com uma filha, nasceu em Fundão, na zona rural de Serranópolis, antigo distrito de Porteirinha. Em 1983, sua família se mudou para Serranopolis. Poucos anos depois, o pai comprou uma carroça, que virou o ganha-pão da família.
Ele conta que trabalhou desde a infância: “Até os 18 anos trabalhei vendendo banana”. Depois, passou a trabalhar como ambulante, vendendo roupas e outras mercadorias para moradores da zona rural de Porteirinha e outros municípios da região. Com dificuldade, conseguiu concluir o curso técnico de contabilidade, equivalente ao ensino médio.
Em 2005, quando começou a administração do ex-prefeito Alonso Reis (PT), Silvanei ganhou o emprego de encarregado do serviço de limpeza da prefeitura. “Fiz muitas amizades com os garis e acabei me candidatando a vereador em 2008, por “livre e espontânea pressão das pessoas, e fui eleito”, relata.
Neste ano, virou candidato a prefeito com o apoio de Alonso Reis, que seria o “candidato natural” da oposição. “Mas, quando foi lançada minha candidatura, os adversários começaram a zombar de mim, que iriam concorrer com ninguém pelo fato de ser filho de um carroceiro. Aí, a campanha acabou ganhando força como “filho do carroceiro contra o milionário”, diz.
DESDÉM Ele conta que, por causa do desdém que sofreu, ainda durante o decorrer da campanha, prometeu que, se fosse eleito, no dia da posse, em 1ºprimeiro de janeiro de 2013, vai chegar à prefeitura na carroça do pai, Sebastião Batista, saindo da casa da família, no Bairro Pedra Azul. “Vou cumprir a promessa e chegar à prefeitura de carroça para a posse”, confirma Silvanei, que, venceu com 13.057 votos contra 9.977 votos de Juraci Martins.
Embora tenha declarado um limite de gastos de R$ 500 mil, Silvanei afirma que as despesas de sua campanha não chegaram a R$ 50 mil. “Tivemos uma campanha pobre, recebendo doações de R$ 100 ou R$ 200. Enquanto o adversário tinha palco, a gente usava a carroceria de um caminhão para os encontros (comícios) na cidade e na zona rural, ou então fazia discursos do chão mesmo”, disse.
Depois da vitória do “filho do carroceiro”, pessoas ligadas à oposição passaram a fazer brincadeiras para provocar, como “o tostão ganhou do milhão” e “a piaba engoliu o tubarão”. Mas Silvanei Batista garante que nunca estimulou a luta de classes e que vai governar “para toda a cidade”. “Quero fazer um governo participativo, respeitando as pessoas. O que acontecia em Porteirinha é que antes o pessoal rico assumia a prefeitura e muitas vezes, as pessoas simples eram maltratadas. Isso não vai acontecer mais”, assegurou. A reportagem, por várias vezes, tentou contato com o prefeito Juraci Freire, mas não teve retorno.

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