'Desaparecimento' de água do Rio Verde Grande é objeto de estudo do Serviço Geológico do Brasil

Foto tirada em agosto deste ano mostra Rio Verde Grande seco em Jaíba, no Norte de Minas — Foto: Bruno Ribeiro/ Arquivo pessoal

(Por Juliana Peixoto e Marina Pereira, g1 Grande Minas e Inter TV) O Serviço Geológico do Brasil em parceria com a Agência Nacional das Águas investigam o trajeto da água da bacia do Rio Verde Grande, que tem desaparecido ao longo dos anos. O rio nasce em Bocaiuva (MG), percorre 557 km e deságua no Rio São Francisco, na divisa com o estado da Bahia. Os pesquisadores começaram um estudo no Norte de Minas e estiveram nos municípios de Montes Claros, São João da Ponte, Verdelândia e Jaíba.

Além dos efeitos da estiagem, o rio tem características geológicas que contribuem para o esvaziamento, como explica a pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil, Maria Antonieta Mourão.

“Grande parte da Bacia do Rio Verde Grande é dominada por rochas carbonáticas, essas rochas tem como característica a presença de cavernas, de dolinas e sumidouros. Essas características implicam na perda da água do rio para o subterrâneo. Isso a gente verifica em todo o trecho do rio”, disse.

Em um estudo feito há três anos, os especialistas identificaram a perda de cerca de 560 mil litros de água por hora no rio, o suficiente para abastecer uma cidade com 90 mil habitantes.

Para entender onde a água está indo e ajudar a preservar o rio, as equipes estão monitorando o trajeto da água por meio do lançamento de corantes. Na segunda etapa do experimento, será feita a análise da água em diferentes pontos do rio e em poços artesianos.

“A iniciativa busca verificar para onde vão as águas do Verde Grande que ‘desaparecem’ em determinados pontos do rio. Pontos de detecção serão monitorados após a injeção dos corantes. Tanto a água quanto o carvão ativado, utilizado para absorver o corante, serão periodicamente analisados pela equipe”, diz nota publicada no site do Serviço Geológico do Brasil.

Os dados coletados na pesquisa vão apontar um caminho para o uso sustentável dos recursos hídricos na região.

“Nós precisamos conhecer a disponibilidade e a partir daí verificar qual é o uso sustentável e se os usos atuais já chegaram nos limites que podem ser considerados prejudiciais à bacia. Os resultados desse estudo permitirão conhecer a velocidade e a trajetória da água subterrânea, bem como essas conexões entre o rio e o aquífero”, falou a pesquisadora.

Seca no Rio Verde Grande
A população em torno da bacia do Rio Verde Grande é de quase 960 mil habitantes e a água é importante para o abastecimento de cidades como Montes Claros, que tem mais de 417 mil moradores.

O presidente do Comitê da Bacia do Rio Verde Grade, Flávio Torres, afirma que o rio vem secando de forma considerável há duas décadas e a vazão diminuiu com as secas sucessivas na região nos últimos seis anos.

“Sem água não tem como desenvolver nada. A água é essencial para o desenvolvimento social e econômico, independente do ramo, seja comercial, industrial ou agrícola. O rio é importante para o abastecimento de indústrias, comércios e especificamente para a agricultura que demanda mais de 90% das suas águas. Na região de Jaíba, ele fica seco quase o ano todo, só enche em época de chuva”.

Quem mora às margens do rio tem percebido que a água está ‘desaparecendo’. É o caso da produtora rural Rita Maria da Costa, de 64 anos, que vive na Comunidade de Boa Esperança, em Jaíba.

“Sou nascida e criada na beira do rio, e vejo que de uns 20 anos para cá começou a secar, e cada vez diminui mais. O rio fica sempre seco entre os meses de julho a setembro. Poder chegar na beira do rio nesta época e ver a água correndo é muito bom, é uma benção”, diz.

Na propriedade, ela cria gado e planta feijão e verduras utilizando água que vem de poço de artesiano.

“Eu molho tudo com a água do poço que nunca faltou, mas a situação do rio é preocupante. Quando a gente vê ele sem água, é uma tristeza”.

Seu Hermes mora há menos de um quilômetro do rio, na Comunidade de Peri-Peri em Montes Claros, e conta que na infância esta distância parecia ser menor por conta da quantidade de água.

“Nós nadava, tomava banho e até tomava da água que era muito limpa, não tinha poluição, era uma água cristalina [Sic]”, conta Hermes Alves da Silva.

O produtor rural quer garantir água por mais gerações e está plantando mudas de árvores às margens do rio.

“Eu já fiz muitas mudas de árvores e já marquei uma área lá para plantar. Então, eu fazendo minha parte e o vizinho fazendo o dele, o rio vai reviver”.

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