Janaúba também está envolta nesta situação: Por que os gatos híbridos provocam polêmica e podem ser proibidos

POPULAR - Savannah: misto de gato doméstico e serval, felino nativo da África - Michael Duva/stone/Getty Images

(Por Matheus Deccache, Veja) O fascínio dos seres humanos pelos gatos é mais do que conhecido e remonta aos primórdios da história — felinos começaram a ser domesticados há 10 000 anos e, no Egito Antigo, eram associados a deuses e reverenciados como tal. Sempre atrás de novidades, o pujante mercado de animais de estimação dedica-se nos últimos tempos a reverter séculos de docilização dos gatos, investindo com sucesso na divulgação de raças com traços da braveza original da espécie. Com nomes chamativos — bengal, savannah, chausie, cheetoh —, esses animais são fruto do cruzamento de gatos selvagens com gatas domésticas, resultando em filhotes de pelagem incomum pelas manchas e listras, olhos grandes e, sim, capacidade de machucar incautos desprevenidos. “Eles são maravilhosos, mas são uns psicopatas”, admite Hailey Bieber, mulher do cantor Bieber, a respeito de Tuna e Sushi, dois bichanos da raça savannah pelos quais o casal pagou 35 000 dólares.

O primeiro híbrido do gênero foi o bengal, filhote de gata domesticada com o gato-leopardo originário do Sudeste Asiático, que começou a ser reproduzido para venda em meados dos anos 1970. De pelos cintilantes, manchas redondas em duas cores (as rosetas) e listras nas pernas, o bengal, um gato que gosta de água, é atualmente o “doméstico selvagem” mais popular: a hashtag #bengalcat no TikTok passa de 670 milhões de visualizações. Dona do bengal Max, a atriz Kristen Stewart se confessa apaixonada por felinos e brinca que ainda vai se tornar “aquela senhora esquisita cercada de gatos, com toda a certeza”. No Brasil, Grazi Massafera tem dois, Sol e Brownie, que vira e mexe expõe nas redes sociais. Em segundo lugar nas preferências vem o savannah, o maior de todos, um híbrido de serval, felino selvagem de porte avantajado nativo da África, com típicas orelhas pontudas. No Instagram, o savannah Stry­ker acumula mais de 850 000 seguidores, a quem diverte com a atração incontrolável por frangos inteiros.

Nos gatis especializados, o preço dos híbridos varia entre 3 500 e 8 000 reais. Em um ano, o Tigrinus, em Janaúba, Minas Gerais, um dos pioneiros no país, vende cerca de oitenta filhotes. “Nossas fêmeas acasalam uma vez por ano, geralmente perto do Natal”, diz o dono, Francisco Rodrigues. Alerta: não são animais de fino trato. “Eles têm genes selvagens em seu DNA e precisam extravasar esse instintto de alguma maneira, o que demanda maior atenção por parte do dono”, explica Kellen Oliveira, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Também é comum apresentarem problemas de saúde. “O processo de hibridização é muito delicado, podendo trazer uma série de complicações neurológicas, cardiológicas e ortopédicas”, diz Kellen.

As dificuldades não se limitam aos felinos e se reproduzem em quase todas as raças híbridas. Ficou famoso o desabafo do australiano Wally Conron, criador do cão labradoodle, a célebre mistura de labrador e poodle que ele antevia como um meigo cão-guia pouco dado a soltar pelos e, portanto, sem risco de causar alergias. Segundo ele, os excessos de cruzamentos nos canis resultaram em cães “ou doidos , ou com problemas hereditários”. “Abri uma caixa de Pandora e liberei um monstro do tipo Frankenstein”, disse. Outro caso conhecido é o do peixe-papagaio vermelho, dotado de uma bela combinação de cores, que segue sendo vendido (custa cerca de 200 reais), apesar da boca pequena demais, que dificulta a alimentação, e das nadadeiras imperfeitas. “O benefício dos humanos não pode falar mais alto que o sofrimento dos bichinhos”, afirma Elda Coelho, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética.

Em relação aos gatos híbridos, o Reino Unido estuda inclusive proibir a reprodução das raças devido ao alto número de bichanos abandonados por donos frustrados com a braveza. A empresária Patrícia Weiss Zimmermann, dona do bengal Tião, garante, no entanto, que é tudo uma questão de paciência. “Ele demorou a ter confiança nos humanos e é, de fato, um pouco arredio com desconhecidos. Mas, assim que se adaptou a nós, virou um gato muito carinhoso”, relata. A mesma recomendação se aplica a Brenda e Nino, os felinos da veterinária Jaqueline Muniz, de São Paulo, “Eles demandam bastante atenção e precisam brincar e gastar muita energia”, ensina ela. Sem isso, é melhor o dono ir se conformando com arranhões e reclamações das visitas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Na zona rural de Curvelo casal é encontrado morto; suspeita é de que o homem assassinou a mulher e se matou

Janaúba: batida entre caminhões na MGC-401 deixa três mortos

Em Brasília de Minas, jovem é preso após atear fogo na casa da mãe