Cachaças do Norte de MG ganham identificação 'Região de Salinas'

Para fazer parte da marca é preciso que produção
seja artesanal (Foto: Lucas Mendes/Arquivo Pessoal)

Avô de Lucas Mendes iniciou produção na Fazenda
Tabua em 1955
(Foto: Lucas Mendes/Arquivo Pessoal)
(G1) Era 1955, ainda despretensiosamente, Olímpio Mendes fazia cachaça em um engenho de madeira movido à tração animal na Fazenda Tabua, em Salinas (MG). Com o passar do tempo, os negócios foram assumidos pelo filho dele, Alfredo, e posteriormente pelo neto, Lucas Mendes. A produção, que era comercializada em doses dentro de uma “vendinha” na propriedade, e seguia também em carros de boi para revendedores na cidade, foi ampliada e modernizada. A história dos Mendes é comum à de outras famílias, que fizeram com que a fama da bebida produzida na região fosse conhecida internacionalmente. Com o objetivo de garantir legitimidade ao produto, será lançada nessa quinta-feira (28) a marca “Região de Salinas”.

“Desde quando assumi a fazenda, em 2003, estruturei um projeto voltado para o turismo, investimos em um novo layout, firmamos parceiras com empresas estrangeiras e conseguimos ter 24 produtos diferentes. A marca Região de Salinas é uma forma de reconhecer quem tem interesse em manter a tradição em produzir a bebida artesanalmente, respeitando as pessoas e a cultura da nossa região”, fala Lucas Mendes, que assumiu os negócios da família depois de decidir abandonar o seminário.

A ideia de criar a marca surgiu de uma parceria entre o Sebrae e a Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (Apacs); o projeto demorou um ano até a conclusão. Integram a “Região de Salinas” os municípios de Fruta de Leite, Novorizonte, Rubelita, Salinas, Santa Cruz de Salinas e Taiobeiras, delimitação geográfica feita pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Para fazer parte do território de produção, o INPI determinou uma série de regras para a fabricação da bebida, como uso de fermento natural e de cana plantada em um dos seis municípios. A área reúne mais de 100 produtores e 50 marcas de cachaça, e a produção chega a 15 milhões de litros por ano.

“O produtor terá a garantia de que a bebida produzida de forma artesanal e genuína será reconhecida e valorizada dessa forma. Assim como o consumidor poderá ter a certeza de que está comprando a legítima cachaça de Salinas”, explica Aldeir Xavier, presidente da Apacs.

“Apesar de considerar os critérios estabelecidos pelo INPI, a marca “Região de Salinas” vai além, e poderá ser concedida para hotéis e restaurantes, por exemplo. Vamos fortalecer ainda mais o potencial riquíssimo da região, que tem a cachaça como vocação, mas iremos valorizar também a cadeia de produção de cachaça artesanal como um todo, que agrega outros setores da economia”, explica Filomeno de Oliveira Júnior, analista técnico do Sebrae.

A expectativa é de que o uso da marca nas garrafas de cachaça seja feito dentro de quatro meses, já que os produtores passarão por um período de adequação. As regras para que estabelecimentos comerciais usem a identificação estão sendo elaboradas, já que as do INPI abrangem somente a produção de cachaça.

Suspeito foi preso com 600 garrafas falsificadas de
cachaça em casa em 2013 (Foto: Michelly Oda/G1)
Legitimidade

O presidente da Apacs aponta ainda que a criação da marca irá evitar algumas fraudes que já foram detectadas na região, e cita como exemplos casos de produtores que compram cana de lugares que não fazem parte da região, pessoas que trazem bebidas de outros lugares para que sejam misturadas às que são produzidas nos seis municípios, além dos que fazem falsificações das marcas “Região de Salinas”.

“Para nos certificarmos, cumprimos todas as exigências legais, temos que arcar com impostos que não são baratos e acabam se tornando um grande obstáculo. Queremos uma fiscalização mais enérgica para os que vivem na informalidade”, fala Aldeir Xavier, que também herdou o tino para produzir cachaça do pai e do avô.

"Esta nossa história que começou com nossos pais e avós, quando a cachaça ainda era levada no lombo dos burros, ainda tem a mesma essência. Queremos que essa riqueza cultural seja respeitada e valorizada em todo o mundo", finaliza Xavier.

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