Norte de Minas Gerais: Justiça condena a 87 anos de prisão homem denunciado por estuprar crianças



(Por Marina Pereira, g1 Grande Minas) A Justiça condenou a 87 anos de prisão Dinamá Pereira de Resende acusado de estupro por várias mulheres em Várzea da Palma, no Norte de Minas. As investigações começaram em 2019 quando as vítimas procuraram a Polícia Civil e relataram que foram estupradas na infância. Dinamá era conhecido na cidade por promover atividades culturais e religiosas com a participação de crianças desde 1980.

Segundo a nota divulgada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o réu foi “condenado a 87 anos, 5 meses e 20 dias de reclusão por crimes sexuais praticados contra sete vítimas do sexo feminino, todas menores à época dos fatos, entre os anos de 2000 e 2006”. A sentença foi proferida pelo juiz Pedro Fernandes Alonso Alves Pereira, titular da 2ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Várzea da Palma.

Ainda de acordo com o TJMG, a decisão é em primeira instância, cabe recurso e foi dado ao réu o direito de responder em liberdade. O órgão disse também que não poderia repassar mais informações sobre o caso porque o processo tramita em segredo de Justiça.

Procurado pelo g1, o advogado de defesa, Santiago Atila Santiago, preferiu não se pronunciar. “Por ser segredo de Justiça, a defesa nada pode se pronunciar por questões éticas. Iremos recorrer da decisão como faço com todas as sentenças desfavoráveis”.

O inquérito instaurado pela Polícia Civil foi finalizado em janeiro de 2020, com pedido de indiciamento por estupro e estupro de vulnerável. Na época, o delegado Guilherme Vasconcelos ouviu catorze vítimas e disse que havia uma coerência muito grande nos relatos delas no que diz respeito à forma de atuação, de cooptação e de prática dos abusos por parte do investigado.

As investigações apontaram que Dinamá criava os grupos infantis para ter acesso às crianças, "principalmente crianças carentes, que viviam em lares sem estrutura mínima, em um ambiente de extrema vulnerabilidade”.

As vítimas relataram que os abusos eram cometidos de diversas formas, de toque à conjunção carnal.

“O investigado se aproveita do descrédito que se dava a palavra de uma criança, tentando dissimular comportamento sexual como se fosse afetuoso”, disse o delegado em entrevista coletiva na época dos fatos.

Dinamá não chegou a ser preso, mas foi obrigado a cumprir medidas cautelares, como se manter afastado dos trabalhos desenvolvidos e não ter contato com crianças.


Justiça feita
“Estou muito feliz por ter mudado a história das crianças da cidade e por ter aberto os olhos dos pais que acreditavam que ele era um homem bom”.
O relato é da técnica de enfermagem Ana Paula Fernandes dos Santos, ela fez a primeira denúncia contra Dinamá que motivou a abertura do inquérito policial.

Ana Paula teve acesso ao resultado da sentença na tarde da última quarta-feira (10) e disse que ficou satisfeita porque a justiça está sendo feita.

“Cada um tem uma visão sobre a justiça, mas a meu ver ela está sendo feita desde o dia que fiz a denúncia porque apareceu outras mulheres e a mídia nos deu voz. E ele também foi afastado das atividades relacionadas as crianças que era o que eu queria, agora a sentença fechou com chave de ouro”.
Em entrevista ao g1 em 2020, Ana Paula revelou ter sofrido o abuso quando tinha entre oito e nove anos. Ela estava na escola quando foi convidada pelo homem a participar das atividades que ele desenvolvia. A menina tinha o sonho de ser modelo e aceitou entrar para as Dinamitas, um grupo de dança. Ela também participava dos terços promovidos pelo investigado.

O abuso ocorreu quando homem foi à casa dela para levá-la a um comício. Ele era candidato a vereador na época e usava crianças para distribuir o material de campanha.

“Fomos na moto levando alguns santinhos para distribuir. Ele disse que precisava de mais alguns e que iria passar na casa dele para pegar. Mas ele já sabia que não tinha ninguém no local. Fui jogada na cama e ele tirou minha roupa. Pedi para que parasse e disse que sentia dor. Depois, ele vestiu minha roupa, me colocou na moto e me levou para casa, como se nada tivesse acontecido”, contou.

No decorrer do processo, Ana Paula foi ouvida em duas audiências de instrução e diz que foi doloroso ter que relembrar os abusos sofridos na infância.

“Foi muito doloroso porque tinha que falar os mínimos detalhes que por mais que a gente fala e dá os relatos para as pessoas, a gente nunca fala assim com os detalhes e na hora o máximo de detalhe que você passar é importante. Foi a parte mais difícil porque toca na ferida”.

A advogada Ana Luíza França acompanha as vítimas desde que as denúncias foram feitas na Polícia Civil. Em entrevista ao g1, ela ressaltou a coragem das mulheres em denunciá-lo.

“Elas deram vozes para muitas mulheres caladas mesmo diante de críticas, porque muitas pessoas ainda acreditam nele pelo prestígio que tinha na cidade. No depoimento, ele falou que atendeu mais de cinco mil crianças durante 30 anos vai saber quantas foram abusadas. Estamos felizes porque a justiça foi feita”.

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