Filho de idoso que morreu em Janaúba reclama de falta de assistência; ele testou positivo para Covid-19, segundo hospital

Joaquim tinha 75 anos e morava na zona rural
de Espinosa — Foto: Luís Paulo Ponte / Arquivo Pessoal

(Por Michelly Oda, G1 Grande Minas) O filho de um idoso, que teve resultado positivo para coronavírus por meio de teste rápido, reclama da falta de assistência por parte do Hospital Regional de Janaúba e de informações por parte de autoridades de saúde de Espinosa. O óbito ainda está sendo investigado e não consta nas estatísticas do Governo de MG. O G1 procurou pelas instituições, veja posicionamento abaixo.
O diagnóstico de Covid-19 foi feito pelo hospital de Janaúba, onde Joaquim da Ponte, de 75 anos, estava internado quando morreu. O idoso morava na zona rural de Espinosa, onde o primeiro atendimento médico foi feito. O filho dele, Luís Paulo Ponte, conta que o pai foi ao hospital municipal no dia 10 de maio.
“Meu pai sentia fraqueza, passaram uns remédios e mandaram ele de volta para casa. Mas na quinta (dia 14), ele voltou ao hospital e foi internado. Como falaram que tinha infecção grave de urina, disseram que iriam fazer a transferência para Janaúba ou Montes Claros”, diz.
O filho conta ainda que o pai tinha asma e bronquite desde 1993. “Ele estava usando só o oxigênio, mas conversava, andava e se alimentava normal. Ao saber que ia para Janaúba, no domingo (dia 17), pediu para conversar com minha mãe. Eu liguei, ele falou com ela que ia, mas voltava logo”, lembra.
Luís Paulo fala que até então não tinha recebido nenhuma informação de que o pai era considerado um caso suspeito de coronavírus, a informação foi fornecida em Janaúba. “Eu e minha irmã revezávamos como acompanhantes, meu pai não estava isolado e dividia um quarto com outros pacientes em Espinosa. Quando chegamos em Janaúba, colocaram nós dois em um quarto separado porque já estávamos em isolamento em Espinosa, o que não era verdade.”
A Prefeitura de Espinosa afirmou que não tratava o caso como suspeito de coronavírus. Já o Hospital Regional, disse que o paciente foi mantido isolado porque tinha sintomas respiratórios, segundo laudo de transferência.
Encaminhamento para Janaúba
O filho de Joaquim ainda afirma que ao chegarem no Hospital Regional, por volta das 15h, eles foram atendidos por uma médica, que pediu exames de urina, sangue e de pulmão.
“Depois de 18h, ninguém mais foi ver meu pai. Ninguém esteve no quarto, ele começou ter crise de asma, febre, eu chamava e me falavam que o médico ia atender. O tempo ia passando e ninguém vinha, eu chamava de novo, me falavam só para fechar a porta do quarto e nada. Um constrangimento total, eu falei: Vocês tiraram pai de Espinosa para morrer aqui em Janaúba sem atendimento? Ninguém dizia nada, só que eu tinha que esperar”, lembra.
Segundo Luís, sem atendimento o pai começou a ficar nervoso, queria sair do hospital e chamar a polícia.
“Do fim da tarde até 23h50, eu fui vendo meu pai morrer aos poucos, sem atendimento, passando gente para lá e para cá. Depois que ele teve uma crise forte e parou de respirar, em 30 segundos o quarto encheu de enfermeiros, médicos, colocaram uns fios nele para reanimar, mas ele já tinha morrido, morreu nos meus braços. Colocaram que foi feita intubação e que fizeram o que puderam, mas isso não é verdade”, lamenta.
Luís Paulo fala que, após um hora do falecimento do pai, foi informado do resultado positivo com o uso de teste rápido.
“O que eu estou querendo dizer é que houve falta de atendimento e negligência do hospital, hoje foi com meu pai, amanhã pode ser com o pai de outra pessoa. Ele foi para Janaúba com o intuito de melhoria, mas chegando lá, foi totalmente o contrário. Eu comecei a ser enfermeiro, com a febre alta, peguei minha camisa, molhei em um torneira e coloquei na testa do meu pai. Ele chegou a fazer xixi no próprio shorts.”
O que diz o Hospital Regional
Por email, a assessoria da unidade informou que não houve nova avaliação médica, das 18h às 23h, devido a troca de plantão e uma intercorrência. "O atendimento foi adequado, porém prejudicado devido a intercorrência, pois havia um homem armado dentro da instituição, que envolveu todos que estavam presentes no hospital".
A assessoria afirmou ainda que por volta das 23h, uma avaliação foi feita. Diante da gravidade do quadro, o idoso foi levado para a sala de emergência, sob isolamento. "O paciente evoluiu com piora sendo necessário intubação e reanimação cardiorrespiratória. Lamentavelmente não respondendo as manobras vindo a óbito."
Sobre o diagnóstico de coronavírus, o hospital afirmou que realizou o teste rápido de IGM, que tem 100% de especificidade para Covid-19. "A escolha entre o teste rápido e o exame de PCR, dependem do tempo de evolução da doença e não do quadro clínico. Os procedimentos e fluxograma dentro do hospital são iguais para todos os pacientes", finaliza a nota.
Falta de informações
“Ligamos para a secretaria de Saúde de Espinosa para saber porque colocaram que meu pai estava em isolamento em Espinosa e eles não souberam explicar. Disseram que não sabiam de nada, que o secretário foi trocado. Nós precisamos de uma resposta, não vai trazer meu pai de volta, mas tantas outras vidas podem ter o mesmo destino se a gente não fizer nada”, diz Luís Cláudio.
O filho do idoso ainda diz que ninguém da família foi submetido a teste, nem a mãe dele, que é idosa e morava com o pai. “A única coisa que falaram é que a gente tinha que ficar isolado em casa, e é o que estamos fazendo.

O que diz a Prefeitura de Espinosa
O secretário de Saúde de Espinosa informou que quatro famílias, de parentes que tiveram contato com Joaquim, foram isoladas e seguem sendo monitoradas pelas equipes do município por telefone. Ninguém passou por teste, porque o o protocolo estabelece que os exames sejam feitos em casos específicos e de pessoas que tenham sintomas compatíveis com a doença.
O secretário disse também que o município considera o óbito como suspeito e que a Superintendência de Saúde (SRS) de Montes Claros está fazendo uma investigação. O G1 procurou pelo órgão e a informação foi confirmada.
O que explica a SRS
"Todos os óbitos suspeitos de Covid-19 são investigados, levando-se em consideração uma criteriosa avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial do caso. Existe um tempo variável em relação à conclusão de caso, visto que é preciso obedecer as seguintes etapas: coleta de dados; investigação; análise do óbito e identificação; proposição de medidas preventivas e corretivas relacionadas à assistência e à qualificação dos sistemas de informação", explicou a SRS.
Sobre os testes, a SRS esclarece que protocolo de infecção prevê o diagnóstico de duas formas: Biologia molecular (RT-PCR em tempo real, detecção do vírus SARS-CoV2) ou Imunológico (teste rápido ou sorologia clássica para detecção de anticorpos para o SARS-CoV2): com resultado positivo para anticorpos IgM e/ou IgG.
"Os resultados positivos serão aceitos para fins epidemiológicos. Se antes de falecer o paciente já tiver sido submetido a teste rápido que tenha dado positivo para Covid-19, a certidão de obtido será emitida tendo essa doença como causa da morte. Caso o teste rápido tenha dado resultado negativo para Covid-19 pode ser coletada amostra para realização de exame sorológico que determinará se o paciente tinha ou não sido infectado pelo coronavírus", informou a SRS.

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