Pesquisa pioneira estuda mel produzido em Janaúba
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Mel de melato tem coloração mais escura e não cristaliza (Foto: Esther Bastos) |
Esther Bastos, coordenadora do trabalho e pesquisadora da Fundação Ezequiel Dias (Funed), explica que o honeydew é comum na Europa e não é um tipo de mel exclusivamente floral. Ainda de acordo com ela, o produto encontrado em Janaúba tem características especificas, entre elas, as propriedades medicinais, com destaque para a ação antimicrobiana.
Além disso, a pesquisadora destaca que o mel norte-mineiro apresenta menor quantidade de glicose, ou seja, não fica com aspecto cristalizado, e maior teor de frutose. O mel de melato tem ainda outros dois açúcares, melezitose e erlose, que não são encontrados no mel floral tradicional, e caracterizam o mel de melato, ou honeydew.
“Os estudos começaram em 2010, quando recebemos amostras de um apicultor da região de Janaúba. Tínhamos a suspeita de que se tratava de um tipo de mel diferente pelas características, como a cor mais escura e a não cristalização”, fala Esther Bastos.
A pesquisadora explica que para identificar a origem do mel, uma base foi instalada em uma fazenda do município. O estudo tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig).
Esther Bastos destaca que o honeydew brasileiro é produzido no entorno da Mata Seca, caracterizada por plantas que perdem as folhas nas estações mais secas, e chuvas concentradas em maior quantidade nos três meses finais do ano.
Esther Bastos diz que “apesar da aparência este bioma é rico em esconde tesouros”. Os fatores ambientais, segundo a pesquisadora, interferem diretamente no tipo de mel. No caso de Janaúba, a matéria-prima, utilizada na produção pelas abelhas, é o melato, substância produzida após a seiva de árvores ser ingerida e excretada por pulgões, que sofreram ação de enzimas, e acréscimo de melizitose e erlose, que influenciam no tipo de mel. No Norte de Minas, a árvore parasitada pelos insetos é a aroeira.
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Imagem da mata seca depois e antes das chuvas (Foto: Esther Bastos) |
O próximo passo da pesquisa do mel de melato é mapear as áreas produtoras, onde serão avaliados cerca de 55 municípios. A intenção da pesquisa é registrar a denominação de origem do produto junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e agregar valor para a comercialização.
“O mel de Janaúba é genuinamente brasileiro. Sabemos que parte do honeydew é vendido para outros estados e comercializado como se fosse originário deles, queremos agregar valor ao produto e possibilitar uma fonte de renda para os apicultores locais.”
Mel como fonte de renda
O primeiro passo para a pesquisa sobre o mel de melato foi dado pelo apicultor José de Calazans Rodrigues de Melo, que está no Norte de Minas há 30 anos e, atualmente, sobrevive da atividade apícola. O que é produzido é vendido para vários estados e depois para outros países.
Além da produção em si, o apicultor também tem uma fábrica de roupas destinadas à produção de mel, e aluga colmeias para a polinização de campos de sementes.
"Resolvi mandar o mel para a Funed por perceber que ele tinha algumas características diferentes, como a cor e o sabor. Algumas pessoas que moram em regiões mais frias, como Curitiba, por exemplo, também diziam que o produto não cristalizava. Por tudo isso achei interessante estudá-lo."
Para o apicultor, além da possibilidade de que o mel seja mais valorizado, após ter a certificação baseada em uma pesquisa, outro benefício está ligado à preservação ambiental.
"Temos a presença da mata seca na região, e como o mel é um subproduto dessa floresta, ela também terá que ser preservada, portanto suas espécies estarão protegidas."
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Cerca de 900 toneladas de mel são produzidas no Norte de MG (Foto: Divulgação / Codevasf) |
O chefe da Unidade de Desenvolvimento territorial da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, Alex Demier, explica que “a Codevasf atua fazendo a interface entre pesquisadores e produtores, auxiliando na coleta de materiais que precisam ser analisados na pesquisa e viabilizando parte recursos para a execução dos trabalhos”.
Alex Demier conta que a região recebe incentivos à apicultura desde 2005; um diagnóstico feito pela Codevasf apontou a necessidade de que fossem feitos investimentos na produção e no beneficiamento do mel. Para o engenheiro agronômo, a produção do Norte de Minas é expressiva e tem perspectivas de crescimento. Mais de 800 famílias sobrevivem da produção de mel e cerca de 900 toneladas são produzidas no Norte de Minas.
"Mais de 90% dos apicultores são também agricultores familiares, portanto o mel se torna uma fonte de renda de grande importância para esses produtores rurais. Especificamente no caso do honeydew, queremos, por meio da certificação, que o produto seja valorizado e reconhecido como sendo da região."
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