Moradores de Bocaiuva ficam sem teto por falta de energia

Cinquenta casas construídas por meio de um programa habitacional estão longe de serem entregues aos donos em Bocaiuva, no Norte de Minas. A demora na instalação da energia nos imóveis impede a mudança dos moradores.
O problema se arrasta há cinco meses, quando as residências ficaram prontas. A rede de água também estava pendente, mas foi concluída há cerca de uma semana.

“Desde o início do cadastramento, garantiram que ocuparíamos as casas em julho. Agora, nem prazo nós temos”, diz o frentista Luiz Carlos da Silva, de 36 anos, um dos contemplados no programa.
 
O conjunto habitacional Geraldo Agenor Veloso foi construído graças a uma parceria entre a Prefeitura de Bocaiuva e o governo de Minas. Foram investidos R$ 2,3 milhões, sendo R$ 790 mil em recursos do Estado, R$ 1,3 milhão do governo federal e R$ 180 mil de contrapartida do município, por meio da doação do terreno e da realização de obras de infraestrutura.

Peneira

Para conquistar a casa própria, os moradores passaram por uma espécie de triagem. Foi verificada a renda per capita (de até um salário mínimo), condições de risco e número de pessoas por família. Cada beneficiário terá que pagar o financiamento social, no valor de R$ 80 por mês, por 25 anos.

De acordo com a Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab), o acerto das parcelas só irá começar após a entrega das chaves. Mas não há previsão para isso acontecer, devido à pendência relativa à luz.

Ilusão

Desempregada, a “garota propaganda” do conjunto habitacional, Elizabeth de Fátima Honorato, de 37 anos, espera, apreensiva, por uma solução.

Mãe de cinco filhos, a cabeleireira foi protagonista da campanha de marketing feita pelo município para a “inauguração” das casas.
“Disseram que a foto seria veiculada assim que o imóvel fosse entregue. Fizeram uma revista com a foto da minha família, mas até agora não sei quando receberei as chaves”, desabafa.

Falta de tempo

A Prefeitura de Bocaiuva contesta o atraso na distribuição das chaves e alega que o problema ocorre devido à “falta de agenda para atendimento da Cemig”.

“Entregamos o projeto para que a energia elétrica fosse instalada. Agora aguardamos a concessionária, que deve concluir o serviço no fim de janeiro do ano que vem”, diz o prefeito Ricardo Afonso Veloso.

Longe de ônibus, escola e posto de saúde

Além da morosidade na liberação das moradias, as famílias selecionadas para ocupar o conjunto habitacional Geraldo Agenor Veloso enfrentarão o desafio de viver em uma região sem serviços básicos como escola, posto de saúde e transporte público.

Cercados por uma área verde e tendo como vizinho apenas o conjunto habitacional Brás Lopes, os moradores cobram melhorias na infraestrutura.

“No início, recebemos a promessa de que um posto de saúde e uma escola seriam construídos. Se nem as casas foram entregues, imagine o resto”, diz Maria Aparecida Borges, de 47 anos.

Segundo o secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Antônio Clarete Veloso, as demandas serão atendidas. “As famílias estão sendo acompanhadas por assistentes sociais, e haverá prioridade para a matrícula das crianças em escolas próximas”.


Atraso se repete

Em 2010, 74 famílias do conjunto Brás Lopes tiveram que acionar a Justiça para entrar em casa.

“Devido à troca de gestão, quase perdemos o cadastro. Quando recorremos à Justiça, conseguimos manter a inscrição e receber as chaves”, diz Ermedina Alves, de 47 anos.

Cemig pede nove meses para instalar rede elétrica
 
Para quem depende das casas populares em Bocaiuva, a falta de informação traz angústia e insegurança. A prefeitura garante que as obras transcorrem normalmente e afirma que tudo ficará pronto no início do ano que vem, mas a Cemig contesta esse prazo.
Em nota, a companhia informou que a administração municipal encaminhou o projeto para a instalação da rede de energia do conjunto habitacional somente no fim de setembro. O serviço deverá ser concluído em 270 dias, o que adia para os últimos dias de junho de 2014 o término da instalação.


No Aperto

Elizabeth de Fátima Honorato, de 37 anos, mora de aluguel e está preocupada com o “jogo de empurra”. A cabeleireira não tem emprego fixo e precisa de R$ 200 por mês para abrigar a família. O local tem estrutura precária e está à venda. “Sempre passo pela humilhação de emprestar as chaves para o proprietário. Há dias em que deixo meus filhos com fome, pois tenho que pagar o aluguel”.

Márcia Maria dos Santos, de 33 anos, também espera por uma definição. Ela divide com seis filhos um barracão de três cômodos. Sem emprego fixo, vive com menos de R$180 por mês.

“Não tenho como abrigar as crianças em outro lugar. Estou passando dificuldades e a casa ajudaria muito a diminuir as despesas”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Janaúba: comunicamos o falecimento de Heloísie da Costa Silva

Na zona rural de Curvelo casal é encontrado morto; suspeita é de que o homem assassinou a mulher e se matou

Janaúba: batida entre caminhões na MGC-401 deixa três mortos