Pai Pedro, no Norte de Minas Gerais, decreta estado de calamidade pública

Carcaças encontradas na estrada conhecida como Passagem do Bernardo, em Pai Pedro (Foto: Adriana Lisboa / G1)
(G1) A caravana “Vidas Áridas na estrada” chega às cidades de Pai Pedro e Catuti, no segundo dia de expedição pelos municípios do Norte de MG que mais tem sofrido com a longa estiagem, considerada a pior seca dos últimos 40 anos.
Ao longo da estrada, chegando ao município de Pai Pedro no extremo Norte do estado, carcaças de animais mortos já evidenciam a escassez de recursos hídricos. A falta de chuvas e a perda de 100% da lavoura levaram o município a decretar estado de calamidade pública.
De acordo com o prefeito da cidade Eujácio Rodrigues, na prática, isso significa que o município “não tem mais condições de andar com as próprias pernas”. 
Ainda segundo o prefeito, os governos estadual e federal já reconheceram que o município não tem mais recursos, e chegou ao limite máximo de extrema pobreza. Em contrapartida, o gestor do legislativo espera que a situação de Pai Pedro provoque uma reação imediata do poder público.
“É uma ferramenta importante para que eles [governo] possam reconhecer e dar suporte para o município enfrentar essa seca. Precisamos de água antes de tudo, pois temos famílias passando sede aqui, sem acesso nenhum à água. Por isso, essa é a primeira ação que esperamos do poder público, porque a situação pode ainda piorar nos próximos 60 dias”, diz Eujácio.
As chuvas na região são esperadas pelos moradores somente a partir de novembro, mas a prefeitura de Pai Pedro está trabalhando na retirada de entulho do leito do rio Serra Branca, que está seco desde fevereiro. O mutirão de limpeza do rio começou nesta terça-feira (1), e já no primeiro dia, oito toneladas de lixo foram retiradas do rio.
“Estamos preparando o rio para a chuva. Neste primeiro momento estamos despoluindo, e em seguida vamos plantar mudas nativas no leito para recompor a mata ciliar, o que vai preservar o Serra Branca e vai evitar a erosão”
O Departamento nacional de obras contra a seca (Denocs) também reconhece a situação de calamidade pública de Pai Pedro. De acordo com coordenador estadual do Denocs, Marco Antônio, para efeito de fonte de recursos, oriundos da Defesa Civil e do ministério da Integração, não existe diferença entre calamidade pública e estado de emergência. A diferença fica nas perdas que o município sofre, e no caso de Pai Pedro, o município teve perda de 100% da lavoura.
O Denocs, através de recursos do governo federal, apoiou a uma demanda do Vidas Áridas e se comprometeu no ano de 2012 em disponibilizar cinco poços artesianos para a comunidade. Marco Antônio afirma que é preciso ter um olhar especial para com a situação do sertanejo norte-mineiro.
“Se todos os órgãos federais ou estaduais se unissem e fizessem um pouquinho, o sofrimento do povo seria amenizado. Basta deixar a política de ação e agir de forma calamitosa”, diz.
O primeiro poço artesiano perfurado e entregue após o compromisso firmado entre o Denocs e o Vidas Áridas foi na comunidade Atrás dos Morros, zona rural de Pai Pedro. O poço, que faz parte do sistema de abastecimento unificado, já atende a 13 famílias na comunidade, entre elas a de Apolinário Rodrigues de Oliveira, de 67 anos. Seu Tita, como é conhecido, nasceu e foi criado no vilarejo, e garante nunca ter visto água jorrando.
“Meu pai morreu sem ter visto água saindo da torneira, minha mãe está vendo pela primeira vez em 86 anos, e estou vendo depois de 50 anos. Vivi a vida toda sem água, sofrendo, mas hoje, graças a Deus, realizei meu sonho”, comemora enquanto é batizado pela água jorrando do poço.
A obra de instalação dos cinco poços prometidos pelo Denocs gira em torno de meio milhão de reais e 74 famílias vão receber água encanada em casa. Segundo o jornalista Geraldo Humberto, um dos idealizadores do Vidas Áridas, saber que um pedido se concretizou vai além de uma satisfação pessoal, é o sentimento de que está no caminho certo.
“Quando estamos em um lugar e detectamos a ausência de políticas públicas, de consciência com o semi-árido, o nosso sonho e desejo é de que os governantes se sensibilizem e atendam às solicitações daquilo que estamos mostrando como essencial na vida de muitas famílias que moram no semi-árido. Isso significa a concretização do desejo de dois sertanejos, de duas pessoas simples, que tem o desejo de ver mudanças no sertão do Norte de Minas”, diz Geraldo.
Catuti
No município de Catuti, também no extremo Norte de Minas Gerais, a situação de escassez de recursos hídricos assemelha-se à Pai Pedro.  A barragem, que foi construída para abastecer o município, secou há quatro anos, sem que tenha sido utilizada para este fim.
Durante a visita do Vidas Áridas ao município, a caravana se reuniu com alunos da Escola Estadual José Barbosa para um bate papo. No encontro os alunos puderam conhecer um pouco mais da própria realidade, além de levantar questões e anseios.
Segundo o jornalista e Délio Pinheiro, o público respondeu além do esperado. “O momento não é de palestra e sim de dar a chance para a comunidade falar. Para nós, mediadores, foi muito interessante porque eles nos deram muita atenção, já que estávamos lidando com um público crítico. Tenho certeza que isso os atingiu e eles vão multiplicar as informações dentro de suas casas. Nós pretendemos, junto com toda comunidade, fazer do Vidas Áridas o maior movimento popular da historia do Norte de Minas”, diz.

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