Jaíba quer certificação de origem

O diretor geral da Brasnica, Helton Jun Yamada, acompanha de perto o processamento das frutas produzidas no Jaíba, no Norte de Minas
(EM) Os bons resultados da organização e profissionalização dos produtores da região do Projeto Jaíba, de fruticultura irrigada no Norte de Minas Gerais, abriram caminho para o desafio de buscar identidade geográfica para a produção local. Inspirados no valor comercial que ganharam itens já reconhecidos pelo consumidor, como o queijo canastra e a cachaça de Salinas, os produtores começaram a trabalhar neste mês no pedido de registro de indicação geográfica das frutas do Jaíba a ser apresentado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O selo fortalece e complementa a marca Região do Jaíba, lançada por um grupo de produtores de manga Palmer em fevereiro, durante a Fruit Logística, maior feira internacional de fruticultura, realizada em Berlim, na Alemanha. Esse é o tema da terceira e última reportagem da série “Frutas S/A”, que o Estado de Minas publica desde domingo.
Toda a argumentação junto ao Inpi será preparada por um consultor já contratado pelos produtores, que contam com apoio do Sebrae Minas no projeto. A ideia de criar identidade geográfica ganhou força depois que missão liderada pela Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte) conheceu a experiência de pequenas empresas de alimentos da Província de Bolonha, na Emília Romana, no Norte da Itália. Os produtores italianos se associaram em estratégias comuns de marketing e comercialização para tornar alimentos como a batata conhecidos fora do país, mais uma fonte de inspiração para o projeto dos fruticultores de Minas, conta o presidente da Abanorte, Jorge Luiz Raimundo de Souza.
“Buscamos uma identidade e fidelização com o cliente, como postura crítica do produtor. Afinal, negociamos com fornecedores, atacadistas e grandes grupos de varejo multinacionais, todos com planejamento estratégico definido e trabalho de inteligência comercial”, afirma Souza. A área do Projeto Jaíba reúne produtores de Janaúba, Jaíba, Porteirinha, Nova Porteirinha, Verdelândia, Matias Cardoso e Itacarambi.
No Centro de Distribuição da Brasnica, uma das maiores produtoras brasileiras de banana-prata, sediada em Janaúba, o diretor geral Helton Jun Yamada diz não ter dúvida de que a produção do Norte de Minas tem largo espaço para disputar no consumo. “A marca valoriza o nosso produto. Provamos que temos qualidade e conseguimos competir em mercados distantes, como o Sul do Brasil”, afirma. Com 2.100 hectares plantados na região e outros 100 hectares no Tocantins, a Brasnica comercializa nos extremos dos polos de Minas Gerais e Rio de Janeiro, de Brasília e do Paraná, este último distante 1,8 mil quilômetros. Cerca de metade da frota é própria da empresa mineira.
Para apurar maior valor do negócio, Helton Yamada conta que passou a trabalhar com o serviço de frete para terceiros no retorno dos locais de consumo. Com 2 mil empregados nas lavouras e em 10 pontos de venda, a Brasnica vai investir na expansão de 300 hectares até o fim de 2014. A expectativa de exportar a banana-prata é grande, além do bom retorno do mercado interno em crescimento. Não é outra a esperança de produtores em pequenas áreas do Norte de Minas, como Antenor Soares Barbosa Filho, de 43 anos, dono de 10 hectares de plantações de limão e de 12 hectares plantados com maracujá. “A exportação é uma oportunidade boa demais, mas para chegar lá temos de confiar e trabalharmos juntos”, afirma, enquanto entrega sua produção na Central Jaí, de cooperativas de produtores familiares, na cidade de Jaíba.

Investimento na qualidade
A qualidade e a condução criteriosa das lavouras são duas das características que os produtores do Norte de Minas pretendem ressaltar no pedido ao Inpi. Na região plana do projeto Jaíba, e de solos férteis, em geral, o clima seco ajuda a evitar pragas e doenças, reduzindo a necessidade de aplicação de defensivos agrícolas, e a irrigação controlada favorece o desenvolvimento das plantações, segundo a Abanorte. Os investimentos na certificação para exportação contribuíram para a adoção de manejo e controle de água sustentáveis, de acordo com Vicente de Paula Silva, presidente da Frutvale – Cooperativa de Fruticultores do Vale do Verde Grande. “O produtor gasta com a certificação, mas depois economiza em adubos, defensivos e água. A oportunidade de exportar vale tanto como alternativa de mercado consumidor, quanto como via de profissionalização”, afirma.
Se a região do Projeto Jaíba perde, pela distância maior dos principais mercados consumidores, para outros polos produtores, como os de São Paulo e Petrolina (PE), tem vantagens na qualidade e versatilidade de sua produção, lembra Cláudio Wagner de Castro, responsável técnico da unidade do agronegócio do Sebrae Minas. A produção mineira está a quase 1 mil quilômetros do terminal portuário de Salvador, quase o dobro dos 570 km que a fruticultura de Petrolina percorre até o porto. O obstáculo, no entanto, está longe de desanimar os fruticultores, que devem trabalhar muito na eficiência dos custos de produção para vencer os concorrentes, avalia o consultor.
“O grande negócio para os produtores é estarem aptos para atender os dois mercados. Se Petrolina tem a vantagem logística, a região do Jaíba conduz sua produção para diferentes itens ofertados em mercados exigentes como os de Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília”, afirma Cláudio Castro. Outra particularidade mineira destacada pelo especialista é a produção da manga Palmer de coloração avermelhada, peso e quantidade de açúcar que agradam os europeus.
A variedade é a preferida no Velho Continente, enquanto o polo produtor de Petrolina tem grande proporção de suas lavouras concentrada nas plantações da manga Tommy. As fazendas de Minas avançaram no processo de gestão das lavouras e dão um passo importante com a tentativa de obter a denominação de origem pela indicação de procedência. A briga por mercado será longa. O consumo médio de frutas por habitante no Brasil foi de 70,84 quilos em 2012, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), quando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 100 quilos por habitante ao ano.

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