Matriz centenária vai ser restaurada em Matias Cardoso

Construída no fim do século 17, Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição é uma das primeiras de Minas e está infestada de cupins
(Por Gustavo Werneck) Depois de uma espera de mais de 10 anos, com muita insegurança, degradação e falta de cuidados, a Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Matias Cardoso, no Norte de Minas, uma das primeiras igrejas de Minas, entra finalmente no ritmo da preservação. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento do templo, em 1954, abriu licitação para escolha da empresa que, num prazo de quatro meses, vai entregar o projeto de restauro. 
Enquanto as obras não começam, a construção do século 17 começa a ganhar serviços emergenciais, que incluem troca das madeiras de portas e janelas, pintura externa e intervenção na área externa para evitar ação das chuvas. “Estamos na maior expectativa, afinal a última obra geral ocorreu há um século”, diz o administrador paroquial, o diácono Daniel Cordeiro Martins. Em 2008, ladrões furtaram três imagens do altar – Santa Maria, Sant’Anna e São Miguel.
Por enquanto, segundo Daniel, a igreja está aberta para missas, casamentos e outras cerimônias religiosas, mas, quando o projeto for deslanchado, as portas terão de ser cerradas. Ele explica que as obras emergenciais vão custar R$ 144 mil e serão possíveis graças a recursos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), com interveniência do Ministério Público de Minas Gerais. Já o dinheiro para a intervenção completa vem de uma mineradora, por medida de compensação ambiental, após acordo com o Iphan. Não há estimativa do valor total da obra, que vai depender ainda de estudos e prospecções.

INFILTRAÇÕES Construída entre 1670 e 1695 e de arquitetura simples, a igreja apresenta problemas estruturais e nos elementos artísticos. “Houve pequenos reparos nos últimos anos, mas o grande trabalho de restauro ocorreu em 1912. Os elementos artísticos foram os mais atingidos. Já passou da hora de consertar, pois para a população da cidade esta é a primeira igreja de Minas”, disse Daniel Martins. Segundo especialistas, a primazia de ter a primeira matriz de Minas é disputada também por Sabará e Raposos. 
A elaboração do projeto, a cargo do arquiteto Carlos Fernando Andrade e equipe da empresa Urbanacon, do Rio de Janeiro, contratada pela construtora vencedora da licitação, será apresentado ao Iphan para avaliação. Ex-superintendente do Iphan naquele estado, Andrade contou que um dos maiores problemas é a infestação de cupins, que compromete principalmente a cobertura da igreja. “Houve algumas intervenções inadequadas na matriz ao longo dos anos”, disse o arquiteto. As infiltrações são outro problema sério, exigindo também uma drenagem externa. 

Uma obra dos Bandeirantes
A história da Matriz de Matias Cardoso está ligada a incursões de bandeirantes paulistas no sertão mineiro em busca de ouro e pedras preciosas. Constam como fundadores do antigo Arraial de Morrinhos os sertanistas Matias Cardoso de Almeida; seu filho, Januário Cardoso; e Antônio Gonçalves Figueira. Januário foi o construtor da igreja. A matriz, em forma de fortaleza, apresenta boa qualidade edificação, com estrutura em alvenaria de tijolos requeimados. Cerca a matriz muro com colunas nos ângulos e nos portões. Na fachada, três portas guarnecidas de cimalhas, com folhas almofadadas, sendo a central de maiores proporções. Acima das duas portas laterais, encontram-se duas janelas com cimalhas, envidraçadas, com losangos geométricos. Chamam atenção desenhos de influência indígena nos pilares externos e sobre os retábulos.
O frontão, separado da fachada por cornija, é constituído pela empena alta encimada pela cruz, em ângulo correspondente às águas do telhado, e pequeno óculo circular. Apresenta duas torres laterais, quadrangulares. As janelas sineiras, sem sinos, são em arcos semicirculares. O telhado é em dois níveis, rebaixado no encontro dos fundos da capela-mor. Na lateral, a igreja apresenta uma sucessão de arcos semicirculares, formando um avarandado no térreo, sob os corredores superiores. 
Memória

Arte sacra roubada

Em agosto de 2008, o patrimônio cultural de Minas voltou a ser alvo de assaltos. De madrugada, ladrões furtaram da Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Matias Cardoso, as imagens de Santa Maria, Sant’Anna e São Miguel. As três, com 50cm de altura, estavam em dois oratórios e são de origem portuguesa, da mesma época de abertura do templo. Na época, um zelador contou que de manhã encontrou uma das três portas da frente arrombada. Na igreja, foram achados uma chave de fenda, o Menino Jesus que estava no colo de Santa Maria, a balança de São Miguel, um pedaço de um dos dedos de uma imagem e um resto de cigarro. Até hoje os objetos sacros estão desaparecidos.

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