Quatro meses após morte de menina, ponte entre Pirapora e Buritizeiro será restaurada

Madeirame em ruínas contribuiu para a queda de uma criança nas águas do São Francisco em 24 de dezembro
Em situação precária há décadas, uma das atrações históricas mais importantes do Vale do Rio São Francisco, a Ponte Marechal Hermes, que liga Pirapora a Buritizeiro, no Norte de Minas, vai passar por uma restauração completa, envolvendo vários órgãos – municipais, estaduais e federais. Após a interferência do Ministério Público estadual, por meio da Promotoria Especializada de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico de Minas Gerais, será formada uma força-tarefa para recuperar o equipamento, inaugurado em 1922. Os dois municípios norte-mineiros também firmaram um termo de ajustamento de condutas (TAC) perante o MPE, no qual foram estabelecidos prazos e medidas para a interdição e recuperação do patrimônio histórico. A execução dos trabalhos foi acertada em reunião, anteontem, entre a promotoria especializada e os representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Secretaria do Patrimônio da União (SPU), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Artístico (Iepha) e da Ferrovia Centro Atlântica (FCA/Vale), concessionária do trecho ferroviário de Pirapora, que vão fazer parte da força-tarefa com representantes dos municípios de Pirapora e Buritizeiro.  
Há mais de três décadas a ponte deixou de ser usada para o transporte ferroviário e passou a enfrentar um processo de deterioração. Nos últimos seis anos, por ela só é permitida a passagem de pessoas a pé, de bicicletas e motocicletas, usando as passarelas laterais. Devido à sua precariedade, em 24 de dezembro, uma menina de 8 anos – Vanessa Oliveira Alves – que fazia a travessia em companhia da mãe, Apoliene Gomes de Oliveira, caiu no Rio São Francisco, passando por um buraco entre as tábuas da ponte. O corpo da criança foi resgatado pelos bombeiros sete dias depois, em Ibiaí, a 50 quilômetros de Pirapora.
De acordo com o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico, no TAC firmado, anteontem, ficou determinada interdição da passarela do lado direito da ponte (sentido Pirapora-Buritizeiro) dentro de 48 horas. Foi fixado o prazo de 30 dias para que os dois municípios promovam a reforma emergencial da passarela esquerda da Marechal Hermes, estando vetada a passagem de motocicletas. A FCA vai fornecer a madeira para a recuperação do piso. Outra providência, a ser tomada dentro de 10 dias, é a substituição, pela Cemig, das lâmpadas queimadas, para garantir mais segurança dos pedestres à noite. Em caso de descumprimento dos termos acordados, as duas prefeituras estarão sujeitas à multa diária de um salário mínimo ao Iepha. 
O coordenador da promotoria especializada disse que os custos para reforma completa da ponte ainda serão levantados. “Dentro de 30 dias, o Iepha vai elaborar um diagnóstico para recuperação integral da ponte, verificando os aspectos da deterioração e a oxidação da estrutura, pintura e iluminação cênica. Somente depois de tomarmos conhecimento do montante de recursos necessários é que vamos iniciar uma nova rodada de negociações com os órgãos envolvidos na força-tarefa para viabilizarmos as verbas para a restauração completa do equipamento”, explica Marcos Paulo, que assinou o TAC com as promotoras Graciele de Rezende Almeida, da Comarca de Pirapora, e Ana Eloísa Marcondes da Silveira, da Promotoria Especializada de Defesa do Meio Ambiente na Bacia do Rio São Francisco.

SAIBA MAIS: Material da Bélgica
Nas primeiras viagens dos trens da Central do Brasil, em 1910, os vagões de carga levaram um considerável volume de material para a construção de uma ponte sobre o Rio São Francisco. Sua construção estava vinculada ao antigo projeto de ligar por ferrovia o Rio de Janeiro a Belém do Pará. Mas o tempo passou e o governo mudou de planos. Se construída, serviria tão somente para ligar Pirapora a Buritizeiro, e isso foi conseguido da União pelo coronel Ramos, uma liderança política local. A ponte foi construída entre 1920 e 1922 em frente ao porto, acima das corredeiras, com material importado: partes metálicas da Bélgica e o cimento, em tambores, dos Estados Unidos. Foi inaugurada em 7 de outubro de 1922 pelo então presidente da República, Epitácio Pessoa. Tem 694m de comprimento, em 14 vãos, sendo os 10 centrais de 55m e os quatro marginais de 36m cada, e 8m de largura, com dois passeios laterais de 2m de largura. A ponte pesa 723ton. Desde 2007 está interditada para veículos.


Pablo de Melo
pablo-labs@hotmail.com

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