Onda de criminalidade leva medo a moradores de Jaíba

Rural. Situação em Jaíba é pior, segundo a Polícia Militar, na zona rural, onde acontece maior parte dos crimes ligados ao tráfico de drogas
A combinação entre a escalada da criminalidade e a precariedade do serviço público traz medo aos moradores de Jaíba, no Norte de Minas. Nos últimos dois meses, o número de assassinatos cometidos na região foi, proporcionalmente, quase cinco vezes maior do que o registrado no mesmo período em Belo Horizonte. Enquanto na capital, que tem 2,4 milhões de habitantes, foram 112 homicídios entre fevereiro e março - um índice de 0,45 mortes para cada 10 mil habitantes - , um levantamento da Polícia Militar de Jaíba aponta que sete pessoas morreram na cidade, que tem 33.587 habitantes - um índice de 2,08 assassinatos. 
A violência e a ousadia do criminosos, que agem à luz do dia e em locais movimentados, como no centro do município, alteraram a rotina dos moradores. "Antes, as crianças daqui brincavam na rua, e os vizinhos colocavam cadeiras nos passeios para conversar. Agora, ninguém fica mais assim. Depois das 20h então, não se vê uma pessoa na rua", contou a comerciante Ana Lúcia Lima, 25, que na última semana teve sua farmácia assaltada por bandidos armados. Segundo a Polícia Militar, além de Ana Lúcia, outros sete comerciantes registraram ocorrências de assalto à mão armada em apenas dois dias.
Com medo de sair de casa, muitos moradores já afirmam que neste ano deixarão de comparecer aos tradicionais shows que celebram o aniversário da cidade, que ocorrem entre hoje e domingo. "Nós temos medo de ir para a festa e deixar nossas casas fechadas, correndo o risco de ser invadidas. Além, claro, de temer pela minha vida", desabafou a operadora de caixa Yara Cardoso, 25.
Para garantir a segurança da população durante o evento, a prefeitura informou que já contratou cerca de cem seguranças particulares, além de ter solicitado reforço de 50 policiais militares dos batalhões de Montes Claros e Janaúba. 
Motivações. Para a Polícia Militar, a motivação para a onda de crimes é o tráfico de drogas. "Nós temos aqui disputas entre duas gangues rivais, principalmente na zona rural. Lá é onde ocorre a maior parte dos homicídios, apesar de as últimas ocorrências terem sido registradas dentro da cidade", declarou o comandante do batalhão da cidade, tenente Ricardo Rondineli. 
O militar disse ainda que, no caso dos assaltos, grupos distintos já foram identificados. "E os envolvidos nesses crimes também têm passagem pela polícia pela mesma razão (tráfico)", disse.

Projeto gerou empregos, mas atraiu bandidos
Para a Prefeitura de Jaíba, o aumento da criminalidade nos últimos dois anos está relacionado à expansão econômica, estimulada pelo Projeto Jaíba – que prevê irrigação para a produção de alimentos no Norte de Minas. 
"É o maior projeto de irrigação da América Latina. Com ele, muitas empresas se instalaram aqui, gerando emprego e renda. A cidade ficou muito visada", alegou o prefeito Jimmy Murça. A expectativa é que o projeto ainda atraia cerca de 60 mil pessoas para a cidade nos próximos cinco anos.

SEGURANÇA

Estrutura deficiente é apontada como entrave
Para tentar frear o avanço da criminalidade, a Prefeitura de Jaíba e as forças policiais da cidade firmaram, anteontem, um convênio para reforçar o policiamento. Entre as ações previstas estão operações conjuntas das polícias civil e militar de combate ao tráfico a cada 15 dias. No entanto, a administração municipal e a PM reconhecem que o efetivo não é suficiente para atender a toda a demanda.
"Nós temos 18 policiais militares, quando precisaríamos de, pelo menos, 60. O ideal também seria ter 25 policiais civis, e não sete como temos hoje", disse o prefeito Jimmy Murça. 
A Polícia Militar reclama da falta de infraestrutura. "A maior parte das viaturas está estragada, e só temos um carro e duas motos para patrulhar toda a cidade", reclamou o comandante Ricardo Rondineli. 
Ainda segundo ele, a segurança dos moradores fica ainda mais vulnerável à noite, quando a única viatura sem defeito tem que se deslocar até a delegacia de Manga, a 73,4 km de distância, para levar detidos – a delegacia de Jaíba funciona apenas até às 18h. O delegado responsável não foi localizado pela reportagem.


Pablo de Melo
pablo-labs@hotmail.com

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