Instabilidade climática gera perdas nas lavouras de Minas

Chuvas irregulares, mal distribuídas e em forma de pancadas refletiram diretamente nos resultados do campo e pesaram nos preços dos alimentos. Prova disso é que a safra de grãos no estado deve apresentar queda de 3% este ano, de acordo com o último balanço feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A colheita deve se limitar a 11,8 milhões de toneladas. A redução impacta nos preços e alimenta o dragão da inflação. As chuvas da última semana chegaram tarde para alterar expressivamente esse resultado, mas podem ajudar a aumentar a produtividade do milho safrinha, plantado em condições de risco, em fevereiro, segundo o gerente do Setor de Levantamento e Avaliação de Safra da Conab, Francisco Olavo de Sousa. “O produtor tem que ser meio que um jogador de pôquer diante dessas mudanças climáticas”, afirma.
Aqueles que apostam em hortaliças também se equilibraram na corda bamba por causa do clima. No mês passado, a oferta na Ceasa-MG caiu 2,7% na comparação com março de 2012, ficando em cerca de 127 milhões de quilos. Ricardo Fernandes Martins, coordenador de Informações de Mercado da Ceasa, lembra que as maluquices do clima foram as responsáveis pela alta dos preços das hortaliças. Ele conta que as chuvas desta semana não representaram perdas nas lavouras. “Mas essa irregularidade não é boa”, reforça. Além do tomate, que teve queda de 15% na oferta, batata, cebola, vagem e cenoura tiveram a colheita reduzida em função da “maluquice do clima”. O reflexo no aumento dos preços foi direto. Mas ele acredita que o equilíbrio se dê até o início de maio.
Ao mesmo tempo que as culturas sofrem a queda de produtividade em função da seca que atingiu o estado nos últimos meses, a pancada de chuva tardia também pode danificar algumas plantações. A colheita de milho e feijão foi a mais prejudicada com a estiagem prolongada dos últimos meses. No caso do grão que acompanha o arroz nos pratos dos mineiros, a quebra da primeira safra chegou a 28,9%. “A nossa produção já foi comprometida. Em novembro choveu bem, mas em dezembro e fevereiro praticamente não choveu no Norte de Minas. O volume de chuva foi abaixo do previsto e mal distribuído”, avalia Sérgio de Oliveira Azevedo, coordenador técnico de Meio Ambiente na região de Montes Claros da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). Ele afirma que a colheita do feijão das águas terminou em fevereiro e a do milho vai até junho.
Em um universo de 1,2 milhão de hectares de produção de milho no estado, 57 mil hectares foram perdidos em função da seca, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). No caso do feijão, a área plantada atingiu 186 mil hectares, mas na colheita foi registrada redução de 12,9%. “Isso explica um pouco a alta do preço do feijão em fevereiro e março”, diz Pierre Vilela, coordenador da Assessoria Técnica da Faemg. A chuva dos últimos dias, afirma, não vai reverter o que já foi perdido no plantio. A partir de agora, avalia, não há razão para fazer novos plantios no caso de não haver sistema de irrigação. “E o frio é limitante para muitas culturas. Devemos ter pelo menos seis meses sem chuvas”, afirma.
Nélio Antônio da Silva é responsável pela área de compras e vendas da Benassi Minas, distribuidora de frutas e hortifrutigranjeiros. Ele conta que está na expectativa do futuro dos preços das mercadorias. “Nos últimos tempos houve aumento grande no preço de frutas e legumes, como vagem, chuchu e beterraba. Mas as pancadas de chuva podem prejudicar a plantação e o preço voltar a subir. O que vai acontecer no mercado é imprevisível”, conclui Silva. Rideo Okano produz hidropônicos (alface, rúcula e agrião) na região de Florestal, com sistema de irrigação. Durante o período da estiagem, ele conta que usou a água do reservatório. “Mas se vier chuva muito forte, pode danificar a nossa estrutura e cobertura”, diz.


Pablo de Melo
pablo-labs@hotmail.com

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